sexta-feira, 28 de julho de 2006 às 04:09

Cidadão Kane: os impérios midiáticos nunca foram tão complexos

Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941) é uma cinebiografia da ascensão e queda de Charles Foster Kane, uma representação inspirada na vida de William Randolph Hearst, um magnata que formou um império na imprensa americana, considerado um dos precursores da chamada "imprensa marrom".

O filme é um clássico. Basta dizer que o roteiro de Herman J. Mankiewicz e Orson Welles venceu o Oscar e, recentemente, foi eleito o quarto melhor da história do cinema, em uma votação realizada pelo Writers Guild of America, que reúne roteiristas de Hollywood.

O grande nome do filme é, indiscutivelmente, Orson Welles. Ele é o diretor, roteirista, produtor e protagonista do filme. Tudo isso aos 25 anos de idade! Antes de Cidadão Kane, o rapaz ficou famoso quando, em 1939, transmitiu um programa de rádio em que simulava uma invasão de marcianos nos Estados Unidos. Baseado no livro "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, a transmissão radiofônica pareceu tão real que a cidade inteira entrou em pânico. Em 2005 Steven Spielberg levou o livro para as telas (leia meu post).

Cidadão Kane      Cidadão Kane

Com a fama conquistada nesse episódio, o rapaz foi bancando por uma grande produtora e recebeu total liberdade para criar no cinema o Cidadão Kane. E ele mais uma vez abalou o mundo. O filme revolucionou a maneira de fazer cinema.

Dentre as diversas inovações, a mais forte é o roteiro não linear. Logo no início do filme Kane aparece morto em seu castelo Xanadu. A partir daí um grupo de jornalistas é escalado para tentar decifrar o significado de "Rosebud", última palavra dita por Kane antes de morrer [ressalta-se que ninguém no filme sabe se essa foi realmente a última palavra de Kane, pois o cidadão morreu sozinho].

Para aumentar a complexidade do roteiro, Orson Welles introduziu uma série de flashbacks em formato de depoimentos. Nisso a história vai sendo construída sob diversas perspectivas. Tudo em um ritmo frenético, estilo investigação documental.

Tecnicamente Cidadão Kane também trouxe profundas contribuições para mudar o jeito de fazer cinema. Segundo especialistas, Welles criou uma lente especial que dá impressão de profundidade do foco. Ele também usou a câmara de um ângulo baixo, quando queria representar a insignificância dos personagens e ângulo alto, quando queria acentuar a grandeza. Hoje em dia isso parece simples, mas volte 60 anos no tempo...

Cidadão Kane      Cidadão Kane

Pessoalmente acho que mais importante que o próprio filme, são as reflexões a cerca dos impérios midiáticos [plim-plim]. Pois é, muita gente costuma dizer que Roberto Marinho é nosso Cidadão Kane. Li uma notícia sobre um suposto documentário chamado "Muito além do Cidadão Kane", de autoria do jornalista Simon Hartog e encomendado pela rede de TV britânica BBC.

Ainda não vi o vídeo, mas pelo que li ele mostra um olhar ousado e devastador do império que a TV Rede Globo montou no Brasil. A reportagem que li diz que o vídeo tem reprodução proibida pela justiça, mas na internet existem alguns links, como no Google Vídeo e no Centro de Mídia Independente.

Eu ainda não tenho uma opinião formada sobre tudo isso. De certo que preciso assistir Cidadão Kane mais algumas vezes. O filme não conseguiu me colocar no grupo "Abaixo Globo!". Mas apesar de não gostar de TV, acredito que o modelo digital irá revolucionar esse veículo e oportunizar uma maior democratização do seu conteúdo. Eu imagino a TV do século XXI como uma espécie de internet light. Ou será que Roberto Kane Marinho irá reencarnar e acabar com tudo isso? Nota 1/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

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