Mas ao contrário do que ocorreu no primeiro, o filme "As Duas Torres" (2002) é absolutamente fiel ao livro. O capítulo da Barbávore, por exemplo, é igualzinho. Nenhuma grande história foi contada sem que todos não conhecessem. Tudo bem, dessa vez houve um pouco de déjà vu, mas nada que diminua a emoção da história do Um Anel. Então vamos analisar as 364 páginas do livro e contar um pouco das diferenças em relação ao filme.
Começo falando de liderança. Aragorn é um péssimo líder! Dizer isso para alguém que só viu o filme é quase uma blasfêmia. Mas no livro todas as decisões de Passolargo resultam em tragédias. Boa parte dos problemas são causadas pela incompetência do Senhor dos Homens. Leia-se: a morte de Boromir, a morte de Gandalf, o seqüestro dos hobbits, a fuga de Frodo e Sam.
Já Gandalf, que representa um papel secundário no filme, é mostrado no livro como um semideus. E o bom de tudo é que podemos saber o que houve nas horas que antecederam sua morte e o desfecho da luta contra o dragão. Outro ponto forte do mago é o duelo com o já derrotado Saruman. E uma curiosidade: o cavalo Scardufax, que Gandalf ostenta, foi por ele roubado. Os Senhores dos Cavalos ficaram irados. Somente após curar o Rei Théoden, é que o Mago Branco finalmente ganhou a posse do cavalo.
Agora responsa rápido: o que você sabe sobre os Orcs? Eles são nojentos. Okay, o filme só mostra isso mesmo. Mas através do livro conhecemos uma nova perspectiva da história. As páginas nos levam à intimidade dos monstrengos. No meio deles a dúvida: quem manda, Sauron ou Saruman? Essa e outras perguntas só estão no livro. Surpreendente também foi saber que no meio da batalha do Abismo de Helm, Aragorn achou tempo para negociar com os Uruk-hai. Falando nele, outra curiosidade: no filme Aragorn cai de um penhasco e quase morre, lembra? Pois no livro não tem nada disso.
A história de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, apesar de sofrer com a "síndrome do irmão do meio", funciona numa crescente. Já beirando o fim, entramos numa das mais belas passagens: a Floresta de Fangorn. Aqui o livro é bem mais lento que o filme. Graças a essa lentidão, nos familiarizamos com o anão Gimli. O papo dele com o elfo Legolas Verdefolha, sobre as Cavernas de Helm, foi surpreendente. Quebrou o estereótipo de marrento que o anão costuma carregar.
Diferente do filme, os Caveleiros de Rohan, incluindo o Rei Théoden, acompanharam Gandalf na comitiva para Isengard, através da grande floresta das árvores falantes. Pensando um pouco com Administrador de Empresas, a conclusão é que O Senhor dos Anéis daria um belo parque temático. Eu pagaria qualquer preço para fazer um passeio a cavalo por Fangorn. Não sei se tal parque já existe, mas seria um sucesso.
Em termos de estrutura narrativa, livro e filme divergem um pouco. Principalmente com relação a seqüencia da história das comitivas. No livro cada história é contada por completo. Já no filme elas se intercalam. Por fim, vem o tão comentado capítulo a Toca da Laracna. Essa é justamente a parte que mais diverge entre livro e filme. No livro o hobbit Frodo não briga com seu amigo Sam, mandando-o embora. Aqui os dois entram juntos na toca da grande aranha. Também não é Frodo que briga com a criatura Gollum, e sim o próprio Sam. Aliás, esse episódio sequer aparece no segundo filme da trilogia.
E chega ao fim mais um episódio do fantástico texto do mestre Tolkien. Um livro que leio com o sentimento de dúvida. O que é melhor: assistir ao filme e lê o livro, ou o inverso? Confesso que sempre achei que a obra original merece prioridade. Mas o diretor e roteirista Peter Jackson adaptou a obra de Tolkien de uma maneira tão especial, que livro e filme se confundem. Pois bem, a jornada agora entrará em sua reta final. Ainda espero muitas surpresas. Tchau.
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