domingo, 27 de julho de 2008 às 13:37

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends: revitaliza o espírito de revolução contra velhas idiotices eclesiásticas

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His FriendsNo final do século XVIII surgiu na Europa um movimento artístico e filosófico chamado Romatismo. Seus precursores tinham uma visão de mundo centrada no indivíduo, passando a retratar em suas obras o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Eles tinham como característica fundamental a busca pelo exótico, pelo inóspito, pelo selvagem. Nas belas artes, a tela "A Liberdade Guiando o Povo", do francês Eugène Delacroix, é um dos ícones desse movimento. A pintura retrata os revolucionários de 1830 sendo guiados pelo "espírito da liberdade" (simbolizado por uma mulher carregando a bandeira da França).

E é justamente "A Liberdade Guiando o Povo" que estampa a capa do novo álbum do Coldplay, entitulado Viva la Vida or Death and All His Friends. O nome faz referência à obra "Viva la Vida", da controversa pintora mexicana Frida Kahlo. O chamamento escrito por Frida num suculento pedaço de melancia chamou atenção de Chris Martin, vocalista da banda. Segundo a revista norte-americana Rolling Stone, esse "grito hedonista" teria sido uma das inspirações do quarteto londrino para compôr o novo disco.

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends

Pela capa diferenciada já dá para notar que Viva la Vida or Death and All His Friends não é um álbum comum e antecipa a temática de perdas e incertezas tocados por todo o disco. No período que sucedeu o lançamento de "X&Y" (2005), terceiro sucesso seguido, a imprensa começou a cobrar algo mais experimental da banda. O grupo composto por Chris Martin (vocalista/pianista/guitarista), Jon Buckland (solo guitarrista), Guy Berryman (baixista) e Will Champion (baterista/multi-instrumentista), encarou o desafio e convidou Brian Eno (ex-músico do Roxy Music e co-responsável pelo antológico "The Joshua Tree", do U2) para produzir o novo trabalho.

Com mais de 32 milhões de álbuns vendidos e buscando zelar pela reputação de "a banda mais cool do rock mundial", achei essa atitude bem corajosa. Na mesma medida, a banda revolucionou ao tratar a internet como sua aliada. A primeira música de trabalho, "Violet Hill", foi lançada em abril no site oficial do grupo e baixada por mais de 2 milhões de pessoas em uma semana. Acha pouco? Pois o Coldplay liberou por uma semana todas as faixas do novo álbum para audição gratuita em sua página do MySpace. O Radiohead também já fez isso, a diferença é que os fãs do Coldplay puderam ouvir todas as faixas antes mesmo do disco chegar às lojas.

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends      Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends

No mês passado, quando o disco finalmente chegou às lojas, estreou em primeiro lugar na parada norte-americana, na contramão da queda de vendas que afeta outros músicos. A banda também alcançou o topo da lista britânica de discos mais vendidos da semana. Coldplay, uma banda de rock alternativo que sempre foi conhecida por suas músicas melancólicas e letras introspectivas, a partir Viva la Vida or Death and All His Friends também ficará na história pela bem sucedida campanha de disseminação online.

Claro que nada disso adiantaria caso Coldplay não fosse uma baita banda. Viva la Vida or Death and All His Friends é um álbum gostoso de ouvir. O interessante é escutá-lo a partir da seqüência musical original. Infelizmente, para a maioria do público isso pouco importa, o cidadão acaba escutando somente as faixas que mais gosta. Quem faz isso perde o que esse álbum tem de mais legal: o looping infinito. Um exemplo é a faixa de abertura "Life in Technicolor" (inteiramente instrumental), uma espécie de prelúdio de "Death And All His Friends", última música do disco. Difícil saber quando começa e quanto termina.

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends      Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends

Logo em seguida vem "Cemeteries of London", um conto de terror tendo como cenário a noite de Londres. É a música que melhor define o disco. A narração inicial é sensacional, consegue criar um clima gótico de mistério, transparecendo uma alegria macabra. É uma sensação parecida com o clima do filme "A Noiva Cadáver" (leia a resenha). Em "Lost", Coldplay nos convida a levantar a cabeça e seguir em frente, que uma derrota não significa o fim. A música foi gravada em antigas igrejas da Espanha e da América Latina, países que possuem uma ligação muito forte com a religião e com a morte, temática principal da produção. O som abusa do vocais, coros e da inconfundível sonoridade sacra dos órgãos litúrgicos.

E se fôssemos fantasmas? A pergunta que costuma povoar o imaginário de todo ser humano pelo menos uma vez na vida, é o mote da triste e vibrante faixa "42". Talvez uma crítica a esse estilo fantasma que a maioria costuma levar a vida, encarando-a como infinita. A música cresce e te faz levantar da cadeira e olhar por fora do cubo de hipocrisia em que vivemos. Para quem leu o livro "O Mochileiro das Galáxias" (leia a resenha), 42 foi a resposta que o supercomputador deu para a pergunta ''qual é o sentido da vida?'', após passar séculos pensando.

Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends      Coldplay - Viva la Vida or Death and All His Friends

"Lovers In Japan/Reign of Love" mantém a batida alta para falar de esperança, terminando de forma triste e melodramática. Em "Yes" somos presenteados com a experimentação instrumental conduzida por belos solos de violino e uma apologia desvairada ao agnosticismo. Os violinos continuam dando o tom na faixa "Viva la Vida". A faixa mais pop do disco é "Violet Hill", música em que os caras pegam mais pesado com a Igreja Católica. Já perto do fim, "Strawberry Swing" tem uma batidinha de entusiasmo provocada por leves tambores africanos, sendo a música mais poética do disco. O álbum finaliza com a promessa de vingança feita em "Death and All His Friends".

O conteúdo é legal, mas em alguns momentos essas baladas tristes do Coldplay me causam náuseas. A busca pelo inóspito parou na força do capital, do lucro certo, do lugar comum. Mas é inegável que Viva la Vida or Death and All His Friends revitaliza esse espírito de revolução, de anarquia, de liberdade da alma e do corpo. Levante-se da cadeira, desligue a merda desse iPod, saia da frente desse notebook, caminhe sozinho pela noite, procure fantasmas no espelho, exorcize velhas idiotices eclesiásticas, dê um passo à frente, caminhe e Viva la Vida! Quem diria: Coldplay, a banda de rock mais depressiva do mundo, fazendo-nos acreditar na utopia da vida real. Algo tão exótico quando escrever em melancia. Nota 4/5

Tatiana: Esse quarto álbum do Coldplay surgiu com a proposta de revolucionar o som que a banda inglesa fazia até então. Apesar da evolução musical, em dez faixas, o quarteto de rock alternativo não conseguiu se livrar da melancolia que fez de sua música "Clocks" um sucesso mundial. O álbum começa com a música "Life In Technicolor", uma trilha para os momentos de quietude que se seguem. A terceira faixa, "Lost", merece destaque pelas palmas que embalam sua poesia e pelo piano solo, outra característica deste álbum. O segundo momento do CD reserva um som mais empolgante de efeitos pulsantes, mantendo a qualidade instrumental e a experimentação de ritmos com tambores africanos e cordas orientais. O bom som dos violinos de Viva la Vida, o rock mais pesado de "Violet Hill" e as composições marcantes mostram o melhor de Coldplay. O resultado final é um som que merece palmas pela inovação e por fugir das fórmulas criadas pela própria banda. Nota 3/5
Assista ao clip de "Violet Hill":

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