quarta-feira, 16 de julho de 2008 às 08:41

O Incrível Hulk: um pouco de tempero brasileiro para acalmar o Gigante Esmeralda

O Incrível HulkUma das coisas mais legais das férias é aproveitar os descontos que os cinemas oferecem para algumas sessões. Essa semana fui assistir O Incrível Hulk (The Incredible Hulk, 2008). Meus amigos andavam falando tão bem do filme que acabei dando prioridade ao Gigante Esmeralda. Sempre gostei do quadrinho, mesmo depois daquela versão cinematográfica fracassada feita pelo cineasta chinês Ang Lee (um Hulk que mais parecia um boneco de plástico, nada perto do padrão Marvel de qualidade).

Para passar uma borracha no filme passado, O Incrível Hulk "finge" que o longa de 2003 é um primo distante e começa tudo de novo. Dessa vez com a direção do francês Louis Leterrier. O cara teve uma idéia muito boa: ao invés de perder a metade do tempo mostrando "como tudo começou", ele aperta o botão forward e vai passando em ritmo acelerado o processo que levou o cientista Bruce Banner (Edward Norton) a transformar-se em Hulk. Durante o filme vão sendo dadas outras pinceladas sobre o assunto.

Depois dessa introdução, a história vem parar no Brasil, especificamente no coração da favela da Rocinha (na verdade as imagens foram feitas na favela Tavares Bastos). O take aéreo sobre a favela carioca é esplendoroso, um painel de barracos ascendentes numa espécie de caos psicodélico, demais. E o morador verde mais ilustre – depois da maconha, claro – é Bruce Banner. O alter-ego de Hulk busca uma flor que seria capaz de retirar a radiação gama do seu sangue. Enquanto não encontra a tal flor, Bruce faz bico numa fábrica do Guaraná Pingo Doce (bizarro!).

O Incrível Hulk      O Incrível Hulk

E o pior é que essa história vai longe. Eu imaginei que a participação do Brasil fosse pequena, mas durou longos 20 minutos. Durante sua estada em terras tupiniquins, Bruce aprende técnicas para controlar sua raiva com o lutador de jiu-jitsu Rickson Gracie, arrisca um português vendo programas de TV meio toscos (Vila Sésamo?) e vive um affair com a morena Débora Nascimento (a madrinha de bateria da novela Duas Caras). Até um cachorro vira-lata o cara cria.

Cheguei a pensar que "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" tivessem feito os caras de Hollywood aprender a representar o Brasil. Sonho meu, bastou os brasileiros (na verdade atores canadenses) abrirem a boca para notar o total despreparo em relação ao português. Isso sem contar as falas sem sentido. O próprio diretor de O Incrível Hulk assumiu a gafe em entrevista à Folha Online: "Olha, eu sinto muito. Sei que os 'brasileiros' do filme não falam português direito. Já brigaram comigo por causa disso."

O Incrível Hulk      O Incrível Hulk

Fora isso, achei excelente contribuição brasileira. A passagem se encerra com uma alucinante correria entre os becos da favela no estilo "Ultimato Bourne". Muito massa os soldados americanos caindo de cima das lajes. Falando nisso, a subida do morro fez o exército yankee parecer com o pessoal do BOPE. A diferença é que em O Incrível Hulk não se vê traficantes. Evidentemente esse tipo de situação só existe em filme de ficção.

A primeira aparição do Hulk, propriamente dito, ainda ocorre no Brasil. E depois de uma salto fenomenal ele vai parar em Guatemala (na realidade é a floresta da Tijuca, Rio), segue então pro México (pra dizer a verdade Santa Teresa, também no Rio) e por fim Estados Unidos. O que o atrai pra casa é a promessa de cura feita por Samuel Sterns (Tim Blake Nelson), um cientista misterioso com quem ele vinha mantendo contato. Além, claro, da saudade de sua ex Betty Ross (Liv Tyler), a mulher que nunca deixou de amar. Porém, na volta pra casa, Hulk precisa fugir da perseguição do general Ross (William Hurt), seu sogro e grande inimigo.

O Incrível Hulk      O Incrível Hulk

A grande novidade é o aparecimento do vilão Abominável, um monstro criado sob o corpo do supersoldado Emil Blonsky (Tim Roth). A idéia é: para deter um Hulk, só outro Hulk. A fórmula funciona e o embate é bestial. Achei parecido com o duelo entre Neo e Smith no filme "Matrix Revolutions". Estranhei apenas a forma como a criatura surgiu, parece que "fazer monstros" virou linha de produção, um produto fácil de replicar. Podiam ter caprichado mais na concepção do personagem.

Existe inclusive uma especulação que o tubo de ensaio com uma substância azul, mostrada pelo cientista durante o filme, seja o ponto de partida da criação do Capitão América, filme da Marvel com lançamento previsto para 2011 (leia mais aqui). De certo que o heróis estão cada vez mais interligados. No final de O Incrível Hulk ocorre uma cena em que Tony Stark (Robert Downey Jr), o Homem-de-Ferro, propõe a criação do lendário grupo Os Vingadores ao general Ross.

O Incrível Hulk      O Incrível Hulk

Mas o que verdadeiramente deu certo em O Incrível Hulk foi o casal Edward Norton e Liv Tyler. Ele empresta uma seriedade absurda ao personagem verde, como na cena em que engole um pendrive com quem estivesse fazendo uma discurso na ONU. Ela é incrível, perfeita para o papel. Um senso de humor, uma delicadeza, sempre encarando a fera como quem fala com o irmão mais novo. Muito em função de Liv Tyler, achei o Hulk de Louis Leterrier parecido com o King Kong de Peter Jackson. Muitas cenas ficaram idênticas, como no encontro com suas divas, sendo Hulk na caverna e King Kong na montanha.

De original, foi bacana a brincadeira do uso da pizza como suborno, da crítica à direção irresponsável dos taxistas de Nova York e do alerta sobre o rastreamento de e-mails feito pelo governo dos EUA. Pequenos detalhes para fazer pensar. Ainda assim, O Incrível Hulk vai ficar marcado mesmo é pelo salto de qualidade visual em relação ao filme anterior. De presente ainda ganhamos uma participação de Stan Lee (gênio criador desse circo) e de Lou Ferrigno (o Hulk da série de TV exibida entre 1978 e 1982). Pena que eu tenha achado o final moralista demais. No stress. Nota 3/5

Confira o trailer em alta-definição clicando no botão play da imagem abaixo.

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