sexta-feira, 30 de janeiro de 2009 às 05:20

O Curioso Caso de Benjamin Button: uma vanguardista crítica social disfarçada de epopéia romântica

O Curioso Caso de Benjamin Button"A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18". Embora não conste em sua lista oficial de citações, a frase é atribuída a Mark Twain, um dos mais famosos romancistas americanos do século XIX. Fascinado pela ciência e tecnologia, Twain acabou inspirando outro gênio literário: Francis Scott Fitzgerald. Contrariando a tradição humanista da literatura mundial, Fitzgerald retratou em sua obra todo o glamour e a efervescência cultural da nobreza norte-americana da década de 1920. Exímio escritor de histórias curtas, Fitzgerald escreveu o conto "O Curioso Caso de Benjamin Button" (1922), lançado no Brasil através do livro "6 Contos da Era do Jazz".

Quase um século depois, O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) chega aos cinemas. Sob a direção de David Fincher - famoso pelos thrillers viscerais "Se7en" (1995) e "Clube da Luta" (1999) - o conto de Fitzgerald ganhou uma embalagem moderna e estilosa. Uma minuciosa crítica social vanguardista disfarçada de epopéia romântica. Mergulhado nos dissabores de uma América pós-Grande Guerra, conhecemos Benjamin Button (Brad Pitt), um bebê nascido sob circunstâncias incomuns. Sua aparência é de uma pessoa em torno dos 80 anos. Rejeitado por todos, Benjamin vai morar num asilo.

O Curioso Caso de Benjamin ButtonO Curioso Caso de Benjamin Button

A convivência com os idosos faz Benjamin perder medo da morte e aprender a valorizar a vida. À medida que o tempo passa, estranhamente seu corpo rejuvenesce. Cada dia é uma vitória contra a lógica. Ninguém esperava que o bebê enrugado tivesse uma vida normal. Ainda criança ele se apaixona por Daisy (Cate Blanchett), menina da mesma idade que ele. A questão é que Benjamin está num corpo de um velho sessentão. Até simples brincadeiras despertam a desconfiança dos adultos. Enquanto a menina não cresce, Benjamin roda o mundo em busca de aventuras. Quando ambos estão jovens, a paixão é inevitável. Juntos vivem os melhores anos de suas vidas.

Até que ponto você levaria um romance desses adiante? Como seria para uma mulher acordar ao lado de um homem cada dia mais jovem? E os filhos? Aceitariam um pai-irmão? O tempo, sempre tão cruel com casais apaixonados, é o personagem principal dessa trama. O "tempo" é dono da cena mais emblemática do filme. Durante a inauguração de um novo relógio na estação de metrô da cidade, um fato chama atenção dos presentes: o ponteiro gira ao contrário. "Eu queria que o tempo fosse contado para traz. Talvez assim eu pudesse reescrever a história. Meu filho nunca teria sido convocado para guerra. Hoje ele estaria aqui, ao meu lado.", discursa o amargurado relojoeiro. A presença de Theodore Roosevelt dá o tom de metáfora política ao evento. Uma belíssima crítica ao mau uso da vida.

O Curioso Caso de Benjamin ButtonO Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button está carregado dessas referências históricas. Sem dúvida o melhor roteiro do ano. Entretanto, o verdadeiro ponto forte do filme é a qualidade do elenco. Personagens singulares entram e saem numa incansável ciranda sincretista. A cena do pastor "tirando o demônio" do corpo de Benjamin é antológica. Muito divertido o menino-idoso sendo tratado como aberração-medonha. Outra figura carismática é o Capitão Mike (Jared Harris). Embora não pareça, ele sempre sonhou em ser artista, mas o pai o obrigou a comandar um barco. Tatuar o próprio corpo foi a maneira que encontrou para esconder suas frustrações. Outro destaque é a força maternal de Queenie (Taraji P. Henson), mãe-adotiva de Benjamin. Exemplo de mulher.

Com 5 indicações ao Globo de Ouro, 11 ao BAFTA e 13 ao Oscar - incluindo a de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Brad Pitt) e Melhor Roteiro Adaptado - O Curioso Caso de Benjamin Button tem tudo para sair campeão da noite do tapete vermelho. Porém, confesso que quase dormi durante o filme. Além de muito longa, a história é lenta e pouco objetiva. Faltou coragem e ousadia para usar uma edição mais difusa. Os caras devem ter achado que a dinâmica ao avesso já era loucura suficiente. De qualquer forma, o filme é uma bela demonstração da beleza efêmera da vida. Se eu pudesse dar um conselho em relação ao futuro, diria: Usem filtro solar. Nota 4/5

Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.

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