quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006 às 18:37

Memória de Minhas Putas Tristes: colocando um nó na garganta de Gabriel Garcia Márquez

Memória de Minhas Putas TristesMemória de Minhas Putas Tristes, de Gabriel Garcia Márquez (autor de "Cem Anos de Solidão" e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982), relata a história de um velho jornalista, que no alto de seus noventa anos reencontra uma velha amiga, Rosa Cabarcas, dona de um prostíbulo que costumava freqüentar.

Entediado de sua vida medíocre e carente afetivamente, o velho jornalista se encanta por uma menina virgem de 14 anos. A história começa a ganhar um elevado teor erótico de conteúdo platônico. Confunde-se realidade e fantasia. No ápice dessa relação, o jornalista já não consegue enxergar a menina como um objeto de fantasias sexuais e sim como um símbolo de veneração a alma feminina.

O livro é um conto erótico, mas não deixa de ser um manual da boa velhice. O segredo parece ser o bom humor. Leia abaixo uma das melhores passagens do livros:

"Comecei por me perguntar quando tomei consciência de ser velho. Aos quarenta e dois anos havia acudido ao médico por causa de uma dor nas costas que me estorvava para respirar. Ele não deu importância: É uma dor natural na sua idade, falou. - Então - disse eu -, o que não é natural é a minha idade. O médico me deu um sorriso de lástima. Vejo que o senhor é um filósofo, disse ele.

Foi a primeira vez que pensei na minha idade em termos de velhice, mas não tardei a esquecer o assunto. E me acostumei a despertar cada dia com uma dor diferente que ia se mudando de lugar e forma, à medida que passavam os anos. A verdade é que as primeiras mudanças são tão lentas que mal se notam, e a gente continua se vendo por dentro como sempre foi, mas de fora os outros reparam.

Na quinta década havia começado a imaginar o que era velhice quando notei os primeiros ocos da memória. Revirava a casa buscando meus óculos até descobrir que os estava usando, ou entrava com eles no chuveiro, ou punha os de leitura sem tirar os de ver de longe. Um dia tomei duas vezes o café da manhã porque me esqueci da primeira".

Com uma narrativa repleta de inspirações poéticas, citação de grandes clássicos mundiais, Memórias de Minhas Putas Tristes prende o leitor pela excelente qualidade textual. Porém, confesso que não gostei da história. Nas últimas páginas um nó na garganta é inevitável. Ficar imaginando um velho de 90 anos sucumbindo ao desejo de possuir uma menina de 14 é demais para mim. Ainda bem que o coroa se contentou em apenas olhar... Nota 1/5
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