domingo, 14 de maio de 2006 às 17:42

Desmundo: a fome da esperança e o sabor da amargura

Desmundo é um romance brasileiro escrito por Ana Miranda e adaptado para a telona pelas mãos do cineasta Alain Fresnot. Não li o livro, então vou fazer considerações apenas sobre o filme Desmundo (Desmundo, 2003).

O longa carrega todos os ingredientes de uma película tupiniquim. Sexo, violência e consternação. Não quero dizer com isso que Desmundo deixa de ser um ótimo trabalho, pelo contrário, os aspectos negativos são facilmente superados pelas grandes interpretações. O longa venceu 3 categorias do Grande Prêmio Cinema Brasil (Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Melhor Direção de Arte), tendo recebido ainda outras 8 indicações. Ganhou também o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema Brasileiro de Paris.

A história se passa no ano de 1570. Um grupo de mulheres é enviado pela rainha de Portugal ao Brasil na tentativa de minimizar o número de filhos dos portugueses com as índias e acalentar os instintos das corajosas almas desbravadoras de nossos "heróis" colonizadores. A idéia de Brasil que o filme transmite é de um período conflituoso. Aliás, o melhor de Desmundo são as imagens excepcionais dos índios sendo explorados, o tratamento escravocrata dado às mulheres, os mecanismos de escambo, o clima sombrio das primeiras vilas e o comportamento "carinhoso" de nossos catequizadoras.

      

A personagem principal é Oribela (Simone Spoladore), uma jovem religiosa que é obrigada a casar-se com Francisco de Albuquerque (Osmar Prado) e passa a morar em um engenho de açúcar escondido no meio da selva. Oribela começa a ganhar asas quando conhece o mercador português Ximeno Dias (Caco Ciocler). Sonhando voltar para Portugal ela foge com Ximeno. É perseguida e encontrada por seu marido Francisco. Os dois cruzam as armas e... bang bang. O filme termina do jeito que eu gosto, foram infelizes para sempre.

Desmundo é um filme diferente de muitos dos outros filmes onde a história é glorificada e embelezada. Ele procura mostrar o que provavelmente acontecia na época do Brasil Colonial. Percebi também uma preocupação em restituir, ou pelo menos se aproximar, aquela que teria sido a experiência de língua falada pelos habitantes daquela época, o português arcaico. Para se ter uma idéia, só é possível entender alguma coisa com o uso de legendas. Nota-se com isso uma grande necessidade de nos mostrar que aquilo de fato aconteceu.

      

Ao representar historicamente o Brasil Colonial, Desmundo tenta associar suas imagens à verdadeira história dos primeiros anos de Brasil. E buscando essa autenticidade, o filme presta diversas contribuições para o meio pedagógico. Ele transforma velhos livros empoeirados em imagens excitantes, permitindo análises e comparações.

Essa é mais uma prova que o cinema pode ser um instrumento útil e eficaz nas mãos dos educadores enquanto objeto de pesquisa. Antes, porém, é necessário analisar atentamente, observando detalhes, debater idéias e criticar visões. Desmundo é isso, a desconstrução do mundo de Oribela, um mundo com a fome da esperança e o sabor da amargura. Uma história sobre a semente da alma brasileira. Nota 3/5

Co-autoria de Juliana de Sousa Castelo Branco.
Comentários
4 Comentários

4 [+] :

terapia as quatro disse...

Parei de ler a suposta resenha no primeiro "estória" que li, que para piorar no texto não estava ao menos entre aspas. O correto seria história!!!!

Daniel Castelo-Branco disse...

Letícia,

Desde pequeno fui ensinado que:

- História refere-se à disciplina, ao passado, ao real.

- Estória é o conto, algo inventado ou escrito por uma pessoa.

Desmundo, como toda obra de ficção, é algo inventado. Pode até ser baseado em fatos históricos, mas não deixa de ser ficção.

Mas andei lendo sobre o assunto e você pode ter razão. Daqui pra frente terei mais cuidado.

Daniel Castelo-Branco disse...

Outra coisa, pena que você não leu o texto até o final, veja o penúltimo parágrafo.

"Ao representar historicamente o Brasil Colonial, Desmundo tenta associar suas imagens à verdadeira história dos primeiros anos de Brasil."

Ou seja, a estória tentando ser fiel à história. Que viagem!

Anônimo disse...

Letícia,

a palavra consta no dicionário Michaelis. O significado é:

estória
es.tó.ria
sf (gr historía) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção; "causo": "Ouviram atentos aquelas estórias de mentira, da ´mula-sem-cabeça', do saci, do curupira. Mais tarde tiveram que mergulhar fundo nas histórias de verdade, para saber como foi construído o Brasil" (Francisco Marins). E. em quadrinhos: série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas. E. da carochinha: conto da carochinha. Estórias do arco da velha: coisas inverossímeis, inacreditáveis. Estória para boi dormir, gír: conversa enfadonha, com intuito de embair; conversa fiada. Deixar-se de estórias: evitar rodeios, indo logo ao ponto principal.

Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=est%F3ria&CP=70908&typeToSearchRadio=exactly&pagRadio=10

ps:Cuidado para não morder a língua! ; )

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