A história tem como pano de fundo o caos e a guerra civil que dominou Serra Leoa na década de 1990. Leonardo DiCaprio é Danny Archer, um ex-mercenário paramilitar do Zimbábue, e Djimon Hounsou interpreta Solomon Vandy, um pescador de etnia Mende. Embora ambos tenham vidas totalmente diferentes, o destino os reúne numa busca para recuperar um raro diamante rosa, um tipo de tesouro que pode transformar vidas.
No primeiro massacre mostrado no filme, Solomon é arrancado de sua família pelo grupo de rebeldes denominado R.U.F. (Revolutionary United Front). O cara é forçado a trabalhar nos campos de diamante, encontra a pedra extraordinária e se arrisca a escondê-la, mesmo sabendo o perigo que corre. A idéia de Solomon é usar a pedra para salvar a esposa e as filhas de uma vida de refugiadas, e resgatar seu filho, Dia, recrutado de maneira bárbara como soldado infantil.
Archer, que vivia da troca de diamantes por armas, fica sabendo da pedra de Solomon enquanto está na prisão por contrabando. Ele quer roubar o diamante e comprar seu bilhete de saída da África e do ciclo de violência e corrupção. Então surge Maddy Bowen (Jennifer Connelly), uma jornalista americana idealista que está em Serra Leoa para desvendar a verdade por trás dos diamantes de sangue, expondo a cumplicidade dos chefes da indústria das pedras, que optaram pelo lucro no lugar dos princípios.
Nossa rotina é tão escrota, que muitas vezes não nos permite um tempo para reflexão. Coisas simples, como imaginar a vida de refugiados. Nessa circunstância, um filme do quilate de Diamante de Sangue preenche parte dessa lacuna. São 138 minutos de tiros, mortes, massacres, carnificina, correria, terrorismo e espanto.
Mas no meio dessa confusão o filme nos convida a refletir sobre o amor de um pai por seu filho. Mas não um filho qualquer, um menino tirado de seus braços, seqüestrado por bárbaros, treinado como um soldado guerrilheiro mirim, intoxicado com drogas e álcool. Um menino desses tem salvação? É possível reverter um trauma psicológico desse nível?
A ética jornalística é outro assunto que percorre o longa. Numa das cenas Maddy Bowen desabafa sobre a eficácia de seu trabalho: "Quer saber, isso é droga. É como um desses comerciais informativos. Você sabe que garotinhos negros lançam bombas que voam diante dos seus olhos. Então aqui eu tenho mães mortas, mas não é nada novo, e talvez seja o suficiente para fazer algumas pessoas chorarem quando lerem. Talvez até dêem um cheque, mas não será o suficiente para fazer isso parar. Estou cansada de escrever sobre as vítimas. Mas essa porra é tudo o que eu posso fazer."
É por esse tipo de reflexão que adorei Diamante de Sangue. Há uma saída para essa guerra dos diamantes? Houve uma saída para a guerra do marfim? E do ouro? E do petróleo, haverá? No final o filme quer saber se é possível respirar sabendo dessa realidade. É?
Dirigido pelo ótimo Edward Zwick e roteirizado por Charles Levitt, com base na história dele em parceria com C. Gaby Mitchell, Diamante de Sangue concorre ao Oscar 2007 com 5 indicações: Melhor Ator (Leonardo DiCaprio), Melhor Ator Coadjuvante (Djimon Hounson), Melhor Edição, Melhor Som e Melhor Edição de Som.
Leonardo DiCaprio como melhor ator é possível, realmente foi uma excelente atuação. Mas o destaque pra mim é Djimon Hounsou. Esse ator negro é incrível. Ele protagonizou as duas melhores cenas do filme. Agora uma curiosidade. Em vários momentos cheguei a pensar estar assistindo "Apocalipse Now", do Francis Ford Coppola. O DiCaprio com o rosto coberto de lama atravessando o selva, um oásis mágico no meio do inferno, o ataque de bombas com campo de mineração, tudo muito real.
E a história ficou perfeita com aquele final incrível, de fazer chorar. Foi um erro não colocar Diamante de Sangue na lista de melhores filmes de 2006. Poucas histórias conseguiram me comover tanto. E pensar que é a sede dos americanos por diamante que alimenta essa indústria da mutilação, carnificina infantil e ganância. Não é à toa que o chão africano é tão vermelho quanto o sangue.
Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.