quinta-feira, 27 de dezembro de 2007 às 01:18

O Monge e o Executivo - Uma história sobre a essência da liderança: um livro amargo e delicioso

Sabe aqueles livros que todo mundo já leu? O Monge e o Executivo - Uma História sobre a Essência da Liderança (Sextante, 2004) é um exemplo clássico. Qualquer gestor que se preze cita em seu discurso algum ensinamento do livro de James C. Hunter. Realmente é um bom livro: rápido, direto e prático. Prontinho para ser lido em uma tarde de domingo.

A história se passa num mosteiro ao norte de Michigan, Estados Unidos. Um pequeno grupo — todos líderes em seus respectivos segmentos sociais — participa de um curso (ou seria retiro espiritual?) sobre a "essência da verdadeira liderança". Nós, leitores, participamos da turma a partir da perspectiva de John Daily, homem bem-sucedido, gerente-geral de uma importante indústria de vidro, contando com mais de quinhentos funcionários e obtendo mais de cem milhões de dólares em vendas anuais.

Aos poucos começam a surgir problemas no trabalho e na família. Sua vida, que parecia tão equilibrada, começa a mostrar sinais de desgaste. Sua mulher é infeliz, os filhos já não o respeitam. Por tudo isso, seu chefe e sua mulher sugerem que ele se afaste durante alguns dias para refletir. O pastor de sua igreja recomenda um mosteiro cristão que abrigava de trinta a quarenta frades. Um deles Leonard Hoffman, famoso empresário americano que abandonou o mundo dos negócios para se tornar monge. Isso chamou muito a atenção de John. Essa é a contextualização do livro.

O desenvolvimento da história é todo em sala de aula. Achei muito boa a estratégia do autor em colocar num mesmo ambiente, pessoas com pensamentos conflitantes. Com isso o autor tentou fechar algumas arestas que costumam aparecer em livros de auto-ajuda. Exemplo: num certo momento um dos personagens diz que o líder precisa "amar todos de sua equipe". Então, antes que o leitor possa emitir um juízo de valor a respeito da aplicabilidade daquilo no dia-a-dia empresarial, um dos personagens dispara: "isso aí é muito bonito, mas na prática não funciona". O autor antecipa as críticas, isso é ótimo pois economiza tempo.

Depois de "uma semana de aula", podemos tirar algumas conclusões importantes. A maior delas, diz respeito da liberdade humana. Confesso que mudei meu modo de pensar graças ao livro. O Monge e o Executivo critica a teoria do determinismo criada do Sigmund Freud. Segundo o autor, a partir dos estudos do pai da psicanálise, as pessoas não assumem mais seus erros. Um assassino diz que só matou porque o pai era bêbado, uma dona-de-casa tornou-se seqüestradora de crianças pelos abusos que sofrera na adolescência... e por aí vai.

Além de ensinar a não culpar os outros pelos próprios erros, o livro trás uma excelente lição de humildade. Em síntese, o livro trata de "liderança servil", um estilo de liderança que se popularizou nos últimos 10 anos, sendo amplamente difundido em empresas e organizações. O Monge ensina ao Executivo, a necessidade de estar diariamente controlando o próprio ego, a própria vaidade. Ele diz que consegue ter muitos momentos de felicidade graças a esse controle.

Outro tema bacana é o egoísmo. Para o autor, todos somos egoístas. Ele exemplifica dizendo que costumamos analisar a foto da turma inteira apenas por nossa imagem. Se sairmos bem, a foto da turma ficou ótima. Outra coisa é o fato de passamos muito tempo tentando concertar os defeitos dos outros, mas esquecemos dos nossos. Taí um negócio que tento praticar. Eu tento não ficar observando, muito menos falando, dos defeitos alheios.

Escutar. Com relação a isso o livro é categórico: ouvir não faz parte das características inatas do ser humano. É preciso muita determinação, autocontrole e disciplina para amarrar os próprios pensamentos enquanto o outro fala. A ciência mostra que enquanto estamos ouvindo alguém, nosso cérebro fica inquieto, trabalhando uma resposta. Muitas vezes nem mesmo esperamos o outro terminar para desenvolver nosso próprio raciocínio. O Monge e o Executivo ensina a "escutar o pensamento" dos outros. Essa é a fórmula mágica quando se quer valorizar alguém.

O livro virou ponto de referência na tipificação dos conceitos de chefia e liderança, distinguindo bem autoridade e poder. As aulas também exploram a importância de bem conjugar a realização de uma tarefa com a construção saudável de relacionamentos. Não só isso, o autor enfatiza os paradigmas e mostra a importância do desafio para nossas vidas. As aulas terminam falando da importância "prática" do amor [nada de pieguice, eu garanto] e a necessidade de se ter paciência e autocontrole, face às adversidades do dia-a-dia.

Em síntese é isso. Claro que as lições aprendidas no livro valem para qualquer campo da vida. Somos líderes em nossa casa, no trabalho, no futebol. Mas especialmente para quem estuda administração, O Monge e o Executivo possui um sabor diferente. Um pouco amargo, é verdade, mas nem por isso menos delicioso. Eu chamaria esse campo de estudo de "Marketing Subliminar de Jesus". O autor disfarça os ensinamentos de Cristo no meio de suas palavras "despretensiosas". Muitos best-sellers fazem a mesma coisa. O escritor Augusto Cury, vive disso. Ainda bem que o livro não nos impõe os dogmas e filosofias cristãs. Pasteurização é tudo que não preciso nesse momento. Nota 3/5
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