Baseado em homônima graphic novel de Neil Gaiman (texto) e Charles Vess (ilustrações), Stardust é uma história com começo, meio e fim. Nada de trilogia! O que hoje em dia é uma baita qualidade para um filme desse gênero. Desde "O Senhor dos Anéis" não se via uma aventura fantástica tão cativante. A história preenche todos os corações e mentes carentes de hobbits. Mas cuidado: o foco aqui não são os efeitos especiais nem as criaturas mitológicas. Muito pelo contrário, nota-se um esforço dos autores para que não percebêssemos que o filme se trata de um conto de fadas. Se isso é bom ou ruim eu não sei.
O protagonista da história é Tristan (Charlie Cox), abandonado pela mãe ainda bebê, mora com seu pai num pequeno vilarejo vitoriano chamado Wall. Jovem, ambicioso e inseguro, tenta a todo custo conquistar o coração de Victoria (Sienna Miller), a mulher mais linda das redondezas. A moça promete que se casará com ele, caso consiga capturar uma estrela cadente. Tristan aceita o desafio e parte em sua jornada heróica.
O problema é que a estrela caiu além dos muros da cidade, numa terra proibida, misteriosa e encantada chamada Stormhold. Ao chegar no local da queda da estrela, o rapaz descobre que o astro luminoso se transformou em uma linda garota chamada Yvaine (Claire Danes). Que vida difícil desse camarada, não acha?! A tarefa agora é levar a moça ao vilarejo e conquistar o amor de sua venerada.
Porém, uma velha feiticeira chamada Lamia (Michelle Pfeiffer) e suas irmãs megeras, também querem a estrela. Caso você não saiba, com o coração de uma estrela é possível ser eternamente jovem. O príncipe Primus (Jason Flemyng) é outro que também persegue a estrela, pois a moça brilhante carrega no pescoço um colar que poderá torná-lo Rei de Stormhold. Mas antes disso o candidato a majestade precisa eliminar todos os outros concorrentes ao trono.
No meio da perseguição, Tristran e Yvaine conhecem o Capitão Shakespeare (Robert De Niro), um velho pirata dos ares, especialista em capturar relâmpagos. É nesse navio mágico que Tristran cresce, aprende a lutar e abandona as feições de menino, tornando-se um herói de direito. Entre uma cena e outra, o amor de Yvaine por Tristran aumenta e passa a ser recíproco.
Okay, admito que resumir Stardust dessa forma faz o filme parecer mais uma dessas fantasias bobinhas. Reconheço que o enredo parece um pouco com a boba adaptação de "As Crônicas de Nárnia" (de criança bastada a rei da terra encantada). A diferença é que aqui somos logo seduzidos por um humor adulto, sexual até. Nada de piadas manufaturadas, a graça da história está presente nas palavras ou, em muitas vezes, na ausência delas. E o filme é sensacional. Várias quebras de ritmo e constantes surpresas nas atitudes de heróis e vilões. Grande mérito do diretor que soube conduzir a história com rapidez e destreza.
De longe o maior destaque é Michelle Pfeiffer na pele de sua bruxa, ora jovem, ora velha. A loira conseguiu interpretar uma personagem demoníaca e engraçada. Quase sempre somos tentados a torcer para que a feiticeira consiga sua almejada "beleza eterna". Destaque também para os príncipes fantasmas, responsáveis pela diversão dantesca. E não posso esquecer de Robert De Niro. O capitão-gay é hilário. A piscada de olho que ele dá no final do filme, fecha a história com chave de ouro.
Negativamente posso apontar a fraca motivação do protagonista. Buscar uma estrela para conseguir uma namorada?! Fala sério! Caso me chamassem para reescrever a história, faria Tristan enfrentar a jornada em busca de sua mãe. Acho que assim sua motivação faria muito mais sentido, pois a separação já durava 18 anos. No final das contas, a cena em que o cara reencontra a mãe é ruim, fria e sem emoção. Os roteiristas perderam uma excelente oportunidade de levar o público às lágrimas. Na recente animação "A Família do Futuro", os caras fizeram isso de forma magistral.
Outra coisa está remoendo meus miolos. Com o sucesso de Stardust, aposto que Hollywood já está bolando uma maneira para criar uma continuação. Nada complicado pois poderiam, por exemplo, inventar um passado mágico para o pai do personagem principal e criar uma trilogia ao avesso. Espero que não. Finalmente, o brilho mais intenso ficou para o confronto final de Tristan com a feiticeira. O rapaz tremia de medo! Bem diferente de Aragorn (O Senhor dos Anéis), que na porta de Mordor, diante de milhares de orks, fez cara de mal e partiu pra briga. Stardust me pareceu mais real, nem por isso menos mágico.
Confira o trailer legendado e com narração em português, clicando no botão play da imagem abaixo.
Outros posts sobre o assunto:
- Os 5 pecados da trilogia O Senhor dos Anéis (22/09/05)