terça-feira, 21 de outubro de 2008 às 00:09

Missão Babilônia: aventura pseudo-religiosa recheada de pequenas explosões de idéias desconexas

Missão BabilôniaQuase todos em minha família são católicos. Além de todo domingo comungar na igreja, alguns realizam novenas, participam de leilões beneficentes, acompanham procissões, participam de encontros eucarísticos. Entre eles tenho uma tia que faz ainda mais: ela celebra missa. Não é sempre que isso acontece, mas quando o padre falta, lá está ela conduzindo a cerimônia. Como todo católico que se preza, ela possui um terço. Mas o dela é especial, presente recebido de um mendigo durante sua primeira viagem à Canindé, terra de Meu Padim Pade Ciço.

O terço, segundo ela, curou uma grave doença no pobre miserável. Com isso o objeto de madeira passou a ser tratado como um pequeno milagre. No sábado passado ela me fez uma visita, trouxe o inseparável terço. Depois de passar um bom tempo falando de suas aventuras turístico-religiosas, ela abençoou minha casa e despediu-se. Meia hora depois me liga desesperada falando que havia esquecido o bendito terço no sofá. Como no dia seguinte haveria missa, passou-me a missão de acordar cedinho e levar seu "pequeno milagre" à igreja. Terço entregue, missa realizada, fé renovada.

Missão Babilônia      Missão Babilônia

Com um pouco de imaginação dá para dizer que o assassino de aluguel Toorop (Vin Diesel), do filme Missão Babilônia (Babylon A.D., 2008), vive uma situação parecida. Ele é contratado pelo mercenário Gorsky (Gérard Depardieu) para escoltar a jovem refugiada Aurora (Mélanie Thierry) de um convento no Cazaquistão até Nova York. Para uma aventura tão longa, eles atravessam a Rússia de trem, enfrentam o Estreito de Bhering de submarino, dão uma paradinha no Alasca e rápido já estão no Canadá. Na viagem ele descobre que a menina é uma espécie de Virgem Maria Biológica, uma arma com poderes de prever o futuro e conhecer sobre coisas das quais nunca experimentou.

Em Nova York percebe que dois grupos disputam a garota. Então Toorop terá que decidir a quem entregar a "encomenda": aos religiosos, que prometem usá-la como instrumento para aumentar o rebanho de fiéis, ou aos cientistas, que provavelmente irão usá-la como arma biológica. A partir de sua decisão, muita coisa estranha acontece. Todos os mistérios levantados no começo do filme são respondidos de forma atabalhoada, como uma tempestade que chega inesperadamente e encerra de maneira fulminante. Um mundaréu de indagações sem uma lógica aparente.

Acho, porém, que o grande barato de Missão Babilônia é o contraste. Por exemplo: o filme inicia mostrando um futuro pós-apocalíptico devastado por guerras nucleares. Nesse caos urbano impera a lei da selva, todas as pessoas são rastreadas e vigiadas por satélite, pisoteiam-se em busca de exílio, disputam comida e espaço. No lado oposto o filme termina de maneira serena, na tranquilidade de uma casa campestre nos arredores de Nova York. Outro exemplo: o velho carro soviético que Toorop inicia sua jornada chega rebocado por um helicóptero. A cena é sensacional, o cara paradão na esquina, nem sinal de carro. De repente o carro cai do céu, bem nos seus pés. Inimaginável.

Missão Babilônia      Missão Babilônia

Numa outra sequência, enquanto a jovem Aurora descobre as cores e sons da vida real através dos rostos estranhos, barracas dos camelôs, imagens de Cristo sendo comercializadas e toda a dinâmica das pessoas em movimento, ela avista um tigre siberiano e questiona Toorop: "Mas eles não foram extintos em 2017". O brutamonte responde: "Aprendeu sobre vida selvagem numa enciclopédia? Aqueles eram clones da segunda geração, não eram tigres reais. Cópias de cópias. Máquinas orgânicas feitas pelo homem". Ela termina: "Mas são criaturas vivas. Feitas por Deus. Deus criou o homem à sua imagem, então o que o homem cria, também é a vontade de Deus".

Missão Babilônia está recheado dessas pequenas explosões de idéias. O próprio contraste entre o matador durão que começa o filme e o ingênuo papai que termina, é algo bem legal. Baseado no romance "Babylon Babies" do francês Maurice G. Dantec, a aventura futurista Missão Babilônia nunca perde a velocidade, aguçando a curiosidade do espectador até o fim. Pena que as respostas tenham vindo de forma tão desconexa. Ao site francês AMCTV.com, o diretor Mathieu Kassovitz culpou a Fox pelas várias remontagens. Ele disse que a versão final do filme "não passa de pura violência e estupidez, não tem nada a ver com o que havia planejado originalmente". Pelo visto o cara jogou pedra na cruz. Nota 3/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

Comentários
3 Comentários

3 [+] :

Anônimo disse...

Hum.. Interessante, tava precisando assistir algo assim!! muito bom

Daniel Castelo-Branco disse...

O poster do filme me fez lembrar "Blade Runner". Nova York do futuro é a cara de Tóquio. Pena que o filme tenha explorado tão pouco esse cenário psicodélico.

Anônimo disse...

Hi everyone! I don't know where to start but hope this site will be useful for me.
I will be happy to receive any help at the start.
Thanks and good luck everyone! ;)

Postar um comentário

Related Posts Plugin for Blogger...