quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009 às 01:26

Foi Apenas um Sonho: a força suicida da máquina de resignação social

Foi Apenas um SonhoUma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que o índice de suicídio entre os jovens casais americanos aumentou em 37% desde a estreia do filme Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, 2008)! Essa informação é falsa, mas bem que podia ser real. A história é absolutamente verdadeira, tanto que ao terminar eu parecia ter caído numa fossa tão funda que nunca mais sairia. Esse é um daqueles momentos em que você se sente humilhado a ponto de pensar em desistir da vida. Quer um conselho de amigo: se você tem tendências suicidas, fique longe desse filme.

Foi Apenas um Sonho se passa nos anos 50, mas facilmente podemos trazê-lo pra hoje. De lá pra cá, nada mudou. Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) e April Wheeler (Kate Winslet) formam um casal jovem e feliz. Felicidade - para uma pessoa socialmente normal - é ter uma casa, um emprego estável e filhos saudáveis. Acontece que a vida, na cabeça de um jovem, é bem mais do que a simples rotina. Todos costumam ter dois sonhos recorrentes: trabalhar naquilo que gosta e viajar o mundo em busca do desconhecido. É batata. Acontece que uma vida "tradicional" não permite isso. O sistema te obriga a ter um emprego (seja ele qual for) que te forneça recursos (o mínimo serve) para sustentar a família com dignidade (entenda: pagar as contas).

Foi Apenas um SonhoFoi Apenas um Sonho

O ponto chave do filme é: quem de nós é capaz de romper esse muro invisível que separa sonho e realidade? Quem é capaz de pegar a família e rodar o mundo atrás de aventura? Quem largaria o emprego seguro para se dedicar à vocação? Quem? Infelizmente a realidade é que ninguém tem coragem de fazer isso. Pelo menos os assalariados que conheço não fariam. O sistema é tão bem montado que a simples menção de saída provoca toda uma reação em cadeia. Forças invisíveis se reagrupam e aumentam o muro ao seu redor. Com o passar do tempo, os pés tornam-se pesados ao ponto que já não há forças para mudanças. A estática cuida do resto. O sujeito se torna mais uma vítima da perversa "máquina de resignação".

Acho que falei muito e expliquei pouco. Vamos exemplificar com o próprio filme. Em certo momento Frank e April - que sempre se sentiram especiais e talentosos - perceberam que estavam caindo no inerte estilo de vida suburbano que os rodeava. O criativo Frank está num trabalho insignificante e burocrático (igualzinho ao que seu pai teve durante toda a vida). April é uma dona de casa infeliz. A mulher então propõe largar tudo e começar uma nova vida em Paris. Veja só: eles são de classe média, não tem garantias de emprego ou mesmo um lugar para morar na França. Mas imbuído do pouco espírito de aventura que ainda lhe resta, o homem topa a loucura.

Foi Apenas um SonhoFoi Apenas um Sonho

Foi Apenas um Sonho funciona nos momentos que antecedem a viagem. No início eles têm certeza que tomaram a melhor decisão, mas ao poucos os acontecimentos levam o provedor a repensar se vale à pena investir nesse ideal. O que mais chama atenção é o fato de todos os amigos, parentes e colegas de trabalho, criticarem os planos de mudança. Numa das cenas mais marcantes, Helen Givings (Kathy Bates), a vizinha do casal, chora copiosamente quando sabe desses planos. Por quê? Provavelmente ela gostaria de fazer a mesma coisa, só que não tem coragem. Tudo isso porque para uma família com filhos, sair da zona de conforto é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Essa questão do "peso dos filhos" é abordada de forma chocante no filme. Prepare o espírito e o lenço.

O mais legal nisso tudo é o personagem John Givings (Michael Shannon). Ele é um louco que acabou de sair do hospício, no entanto, é justamente o único capaz de entender o casal. Seus pensamentos trazem sanidade (veja só!) para um mundo fantasiado com a máscara da auto-segurança. Por trás dessa máscara há uma enorme frustração pelas promessas de vida não cumpridas no relacionamento pessoal e na carreira. Engraçado como só o louco consegue enxergar os muros de hipocrisia. Afinal, quem é louco? Ele ou nós? Achei o personagem simplesmente genial e muito bem interpretado. Merece o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Foi Apenas um SonhoFoi Apenas um Sonho

E como chegamos até aqui? Prestações, aluguel, hipoteca, carro, o sistema te abriga a ter uma vida metódica. Você acaba assumindo compromissos e depois não consegue se livrar deles. Antes do fim você descobre que a vida perfeita que nos venderam não existe. Fomos enganados. Pior ainda, que paga a conta somos nós, seja com a falta de convivência com os filhos, o pouco tempo para esposa, morar onde não queremos, trabalhar com o que não gostamos, fatos que padronizam nosso comportamento e castram o desejo de mudança. Experimente fugir disso... Pensar diferente te faz um subversivo. Na insistência você vira um palhaço. Com teimosia um lunático. Chega uma hora que só te abrem duas portas: a do caixão e do hospício.

Foi Apenas um Sonho é um filme bem lento e muito dramático, um bom estudo de caso para quem gosta de sociologia e dinâmica social. Esse é um daqueles filmes para guardar na memória. Não quero estragar as inúmeras surpresas dessa interessante história, mas gostaria de citar as duas cenas finais. Na primeira um novo casal chega para morar na velha casa dos Wheeler's. Na segunda o velho abaixa o som do ouvido para não escutar sua mulher falando. Ambas são exemplos da continuidade do sistema. A lógica da vida humana que segue. É como se alguém nos dissesse: a sociedade é assim, acostume ou morra. Nota 5/5

Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.

Qual nota você dá para o filme?
Comentários
1 Comentários

1 [+] :

Anônimo disse...

Por favor, me responda, por quê April se matou?? Foi para provar que não amava Frank? Por tirar o filho dele... Me responda por favor!!!

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