Foi Apenas um Sonho se passa nos anos 50, mas facilmente podemos trazê-lo pra hoje. De lá pra cá, nada mudou. Frank Wheeler (Leonardo DiCaprio) e April Wheeler (Kate Winslet) formam um casal jovem e feliz. Felicidade - para uma pessoa socialmente normal - é ter uma casa, um emprego estável e filhos saudáveis. Acontece que a vida, na cabeça de um jovem, é bem mais do que a simples rotina. Todos costumam ter dois sonhos recorrentes: trabalhar naquilo que gosta e viajar o mundo em busca do desconhecido. É batata. Acontece que uma vida "tradicional" não permite isso. O sistema te obriga a ter um emprego (seja ele qual for) que te forneça recursos (o mínimo serve) para sustentar a família com dignidade (entenda: pagar as contas).
Acho que falei muito e expliquei pouco. Vamos exemplificar com o próprio filme. Em certo momento Frank e April - que sempre se sentiram especiais e talentosos - perceberam que estavam caindo no inerte estilo de vida suburbano que os rodeava. O criativo Frank está num trabalho insignificante e burocrático (igualzinho ao que seu pai teve durante toda a vida). April é uma dona de casa infeliz. A mulher então propõe largar tudo e começar uma nova vida em Paris. Veja só: eles são de classe média, não tem garantias de emprego ou mesmo um lugar para morar na França. Mas imbuído do pouco espírito de aventura que ainda lhe resta, o homem topa a loucura.
O mais legal nisso tudo é o personagem John Givings (Michael Shannon). Ele é um louco que acabou de sair do hospício, no entanto, é justamente o único capaz de entender o casal. Seus pensamentos trazem sanidade (veja só!) para um mundo fantasiado com a máscara da auto-segurança. Por trás dessa máscara há uma enorme frustração pelas promessas de vida não cumpridas no relacionamento pessoal e na carreira. Engraçado como só o louco consegue enxergar os muros de hipocrisia. Afinal, quem é louco? Ele ou nós? Achei o personagem simplesmente genial e muito bem interpretado. Merece o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Foi Apenas um Sonho é um filme bem lento e muito dramático, um bom estudo de caso para quem gosta de sociologia e dinâmica social. Esse é um daqueles filmes para guardar na memória. Não quero estragar as inúmeras surpresas dessa interessante história, mas gostaria de citar as duas cenas finais. Na primeira um novo casal chega para morar na velha casa dos Wheeler's. Na segunda o velho abaixa o som do ouvido para não escutar sua mulher falando. Ambas são exemplos da continuidade do sistema. A lógica da vida humana que segue. É como se alguém nos dissesse: a sociedade é assim, acostume ou morra.
Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.
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