domingo, 15 de fevereiro de 2009 às 13:34

O Lutador: uma explícita e cruel caminhada nos frágeis limites da carne

O LutadorEu cresci assistindo telecatch na extinta rede Manchete. Quem é mais novo talvez não saiba, mas a luta-livre fez a alegria de toda uma geração de crianças e adultos das décadas de 60-80. Na época existia um boato que os combates eram coreografados, mas ninguém sabia ao certo. Minha fixação era tão grande que cheguei a participar com meus primos de um torneio no bairro. Semanalmente nos reuníamos numa casa abandonada e organizávamos as disputas. A briga só acabava quando o perdedor dizia "pinico". Era muito legal, principalmente quando alguém comia terra.

O Lutador (The Wrestler, 2008) destruiu essa minha pequena memória romântica. O filme explora os bastidores desses combates, acompanhando as 24 horas da rotina de Randy "The Ram" Robinson (Mickey Rourke), um solitário profissional de luta-livre dos anos 80. Após um intenso combate, Randy sofre um infarto e passa por uma cirurgia. Sem poder praticar atividades físicas sob risco de morte, o lutador entra em processo de aposentadoria. O que parecia ruim, acaba abrindo caminho para uma nova vida. Ele conhece e apaixona-se (ao seu modo) pela stripper Cassidy (Marisa Tomei) e faz as pazes (ao seu modo) com a filha Stephanie (Evan Rachel Wood), que havia abandonado.

O LutadorO Lutador

Muito curioso o processo de adaptação de Randy à nova vida. Os "bicos" que fazia foram substituídos por um emprego no balcão de frios de um supermercado. Legal ele indo pro primeiro dia de trabalho como se estivesse entrando num ringue. A diferença é que os gritos da torcida deram lugar a pedidos de queijo e presunto. Para ocupar o tempo ocioso, Randy chama o filho do vizinho para brincar em seu velho videogame. Mas o garoto logo abusa a simplicidade dos jogos. Em outro bom momento de O Lutador, Randy esculhamba com o Nirvana, dizendo que o estilo grunge de Kurt Cobain acabou com o verdadeiro rock. Ele prova sua teoria cantando "Sweet Child of Mine", do Guns N' Roses. Aquilo sim era rock de verdade!

Tudo parecia caminhar bem para uma aposentadoria tranquila, mas o ringue chama, o público faz falta. Não dá simplesmente para abandonar os amigos, esquecer a velha capa, a máscara, a maquiagem e as fantásticas roupas chamativas. Pressionado a retornar ao ringue para uma revanche de sua clássica luta contra o Aiatolá (Ernest Miller), Randy se vê angustiado. Nesse momento O Lutador entra num estágio de profunda depressão. As lutas são sim ensaiadas, mas o sangue é real. A história representa o fim de uma triste e cruel caminhada rumo à glória, nos frágeis limites da própria carne. Um filme explícito do começo ao fim, seja no abuso do sexo, das drogas ou do rock 'n' roll.

O LutadorO Lutador

O Lutador adapta o livro que Robert Siegel, tendo representado o apogeu do renegado astro Mickey Rourke. O cara simplesmente está destruindo tudo que encontra pela frente. O filme já ganhou dois Globos de Ouro, nas categorias de Melhor Ator - Drama (Mickey Rourke) e Melhor Canção Original ("The Wrestler"), um Leão de Ouro no Festival de Veneza, o BAFTA de Melhor Ator (Mickey Rourke) e está na briga pelo Oscar com duas indicações nas categorias de Melhor Ator (Mickey Rourke) e Melhor Atriz Coadjuvante (Marisa Tomei). Tudo isso sem que Mickey Rourke tenha recebido um só tostão por sua participação no filme. Quero só vê o que ele dirá quando subir no palco para receber a estatueta dourada. Nota 4/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

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Comentários
1 Comentários

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Luis Almeida disse...

Não gostei desse filme e não entendo porque todo ano os mais contados filmes da academia são tão violentos. Onde estão os filmes que exibem uma bela fotografia, com um roteiro execelente e atuações bombásticas? Acho que estou ficando velho, peraí que vou assisti ali "Gone with the wind"

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