domingo, 14 de setembro de 2008 às 13:09

O Caçador de Pipas: uma jornada redentora em um Afeganistão pouco conhecido

Com mais de oito milhões de cópias vendidas em todo o mundo, O Caçador de Pipas (Editora Nova Fronteira, 2005) é a maior revelação literária dos últimos anos. Feito ainda mais significativo porque esse é o primeiro romance escrito pelo afegão Khaled Hosseini. O livro promove uma série de discussões a respeito de questões históricas e culturais do Afeganistão da década de 1970, passando pela queda da monarquia, a invasão soviética, a emigração de refugiados para o Paquistão, o regime do Talibã até chegar ao bombardeio americano pós 11 de Setembro.

Mas O Caçador de Pipas é, em suma, um livro de memórias. Nele conhecemos a história de Amir, um garoto rico de Cabul, no Afeganistão, que é atormentado pela culpa de ter traído seu melhor amigo, Hassan, filho do empregado do seu pai. De pequeno a adulto, o egoísta e covarde Amir usa todas as artimanhas imorais para conseguir atenção exclusiva de seu pai, não medindo limites para alcançar sua obsessão. Porém, para o leitor brasileiro é um pouco difícil entender a fundo esse ciúme. Tratar empregados como membros da família, é algo bem comum, diria até típico, principalmente na cultura nordestina.

Mesmo assim, é impressionante a força eterna da culpa, da resignação, do passado. O passado é eterno. O romance nos mostra que pequenas decisões podem ocasionar grandes tragédias. A felicidade não está em conseguir tudo que queremos, o mais importante na vida é o preço que pagaremos por cada decisão. Parece auto-ajuda, mas vem embrulhado de uma maneira tão sutil que você nem vai perceber. Do meio da história para frente, O Caçador de Pipas se apresenta como um livro de redenção. Depois de anos sem conseguir dormir pelo peso da culpa que carregava, Amir ganha uma nova chance de "reescrever o passado".

É então que o drama passa por uma série de acontecimentos indescritíveis. O que parecia uma curta jornada em busca do perdão se torna uma triste epopéia de grandes tragédias. Um mundo de medo, terror e selvageria. A lógica Talibã! Pena que o escritor tenha pouco explorado as conseqüências do bombardeio americano, talvez para evitar polêmicas e vender mais livros. Ao fim, não ficamos sabendo nem mesmo se Amir conseguiu encontrar a tal redenção. Um tanto decepcionante para alguém que teve coragem de superar suas fraquezas e encarar o passado, coisa que pouca gente faria.

O Caçador de Pipas é um bom livro. No entanto, apostaria toda a grana que tenho no bolso que ele não teria tido sucesso sem a Guerra do Afeganistão. É como o próprio Amir fala em um trecho do livro: "é estranho vê os telejornais falando das cidades que passei minha infância". Só mesmo uma guerra para levar o Afeganistão para o centro das discussões mundiais. Até porque, para o leigo, imaginar um Afeganistão sem guerra, em que as crianças soltavam pipas e viviam felizes, é quase impossível. Nota 3/5

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