domingo, 8 de março de 2009 às 12:11

Ensaio Sobre a Cegueira: surpreende pela técnica e decepciona pela superficialidade

Ensaio Sobre a CegueiraA noite do Oscar que consagrou o diretor inglês Danny Boyle e seu filme "Quem Quer Ser um Milionário?" (leia a resenha) merecia ter acontecido com o brasileiro Fernando Meirelles por "Cidade de Deus" (2002). É um filme que entrou para a história e tornou-se uma lenda no mundo inteiro. Seis anos depois e Fernando Meirelles nos apresenta outro polêmico filme: Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008), baseado no livro homônimo de José Saramago (leia a resenha). Confundido com filme de terror trash (pela história), filme cult (pelo visual), filme contra os cegos (pelo título), Ensaio Sobre a Cegueira foi rotulado e criticado. Acabei contagiado pela boataria. Desisti do filme com um ingresso na mão.

O filme explora o impacto social numa cidade atingida por uma inexplicável epidemia de cegueira. Não a cegueira normal, a doença mostrada na história é chamada de "cegueira branca". Tudo começa com um motorista oriental (Yusuke Iseya) bem no meio do trânsito. Desorientado, o sujeito vai a um consultório oftalmológico buscar uma explicação. No consultório acaba contagiando os outras pessoas, como uma prostituta com óculos escuros (Alice Braga), um homem com venda preta no olho (Danny Glover) e o próprio médico (Mark Ruffalo). O governo rapidamente joga todos os infectados num manicômio desativado. A cada dia chegam novos cegos ao local. Eles terão que sobreviver sem ajuda do governo, que os deixa por conta própria. A única pessoa que não foi contaminada pela cegueira é esposa do médico (Julianne Moore). E é justamente a partir das impressões dela que Ensaio Sobre a Cegueira acontece.

Ensaio Sobre a CegueiraEnsaio Sobre a Cegueira

Vou logo dizendo que não é um filme fácil de assistir. O expectador tem que estar preparado para tudo. Eu fiquei o tempo inteiro incomodado. Muitas cenas são fortes. O interessante é que logo no início percebi que boa parte da polêmica inicial não tem o menor sentido. Por exemplo: o filme não é trash, pelo contrário, a história é uma excelente metáfora social em tempos de crise econômica. Outra coisa, o filme não é cult. A claridade mostrada em tela apenas reproduz a sensação de quem leu o livro. Além disso, os cegos "naturais" não foram discriminados, longe disso, no filme eles são tratados como rei. Até mesmo a cena do estupro coletivo, que achei ser potencialmente vulgar, acabou me surpreendendo. Tudo foi muito bem feito, o diretor soube usar bem as imagens em penumbra e os sons. Aliás, Ensaio Sobre a Cegueira me surpreendeu pelo alto padrão técnico na qualidade das imagens, iluminação e decoração de ambientes.

Para quem assistiu procurando um filme de terror, talvez tenha gostado apenas da cena do supermercado. Nela a personagem de Julianne Moore, única que enxerga no filme, é obrigada a encarar a escuridão de um supermercado abandonado em busca de comida. O espectador fica perdido no meio de um breu quase constrangedor. Excelente, pena que foi tão pouco. Achei que faltou explorar mais a podridão descrita no livro. Mas aí o filme ficaria ainda mais difícil de assistir. De qualquer forma, o filme conseguiu captar um pouco desse sentimento de revolta com nossos instintos básicos de comida e higiene. É como se eu estivesse lendo o livro em flash forward. Nada de importante falta, mas tudo é rápido demais. Fato que acaba gerando outro problema: superficialidade, o filme não consegue chegar a lugar algum. Para quem não conhece o livro, Ensaio Sobre a Cegueira é apenas um louco devaneio de um filósofo sobre seu tempo. Nota 3/5

Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.

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