Por isso estava roendo as unhas para lê Watchmen - Volume 1 (Via Lettera, 2005), que contempla os três primeiros capítulos da graphic novel escrita por Alan Moore e ilustrada por Dave Gibbons. Publicada originalmente em doze edições mensais pela editora DC Comics entre 1986 e 1987, Watchmen é tratado pelos nerds da década de 80 como uma verdadeira Bíblia dos Quadrinhos. Ele é o único gibi na lista das 100 maiores obras literárias da Revista Time.
Sagrado e quase intocável, vários fracassaram ao tentar levar Watchmen ao cinema. Felizmente Zack Snyder, diretor do excelente filme "300" (leia a resenha), conseguiu toda a grana e a liberdade visionária que a história exige. O filme será lançado em março de 2009. Pelos trailers, imagens dos bastidores, entrevistas com o elenco e as primeiras críticas de quem já assistiu um pedaço do filme, Watchmen vem para brigar com "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (leia a resenha) pelo título de "super-herói do mundo real".
Watchmen se passa numa realidade histórica alternativa de Nova York da década de 80. Nela o presidente Richard Nixon teria conduzido os EUA à vitória na Guerra do Vietnã, fato que o fez permanecer um longo período no poder. Ele promulgou a Lei Keene, exigindo que todos os "aventureiros fantasiados" se registrassem no governo. A maioria dos vigilantes resolveu se aposentar, alguns revelando suas identidades secretas para faturar com a atenção da mídia. Outros continuaram a trabalhar sob a supervisão e o controle do governo.
O Capítulo 1 começa com a investigação do assassinato de Edward Blake, identidade civil do vigilante mascarado conhecido como Comediante. A dupla de policiais responsável pelo caso tenta abafar o homicídio, temendo uma revolta de algum "vingador mascarado". O mais violento deles é o misterioso Rorschach (se pronuncia Rorchá), que mesmo depois da proibição governamental, continua a operar como um herói renegado e fora-da-lei, sendo frequentemente perseguido pela polícia.
Rorschach passa toda a primeira metade da trama entrando em contato com seus antigos companheiros. Ele avisa sobre uma provável conspiração contra os heróis e aproveita para buscar pistas, considerando todos possíveis suspeitos. O primeiro a ser visitado é Daniel Dreiberg, o Coruja II. Depois vai ao bar Happy Harry's buscar alguma informação. Logo em seguida conversa com Adrian Veidt, alter-ego de Ozymandias, considerado o homem mais inteligente do mundo.
No Centro Rockefeller de Pesquisas Militares, encontra Dr. Manhattan, único herói com super-poderes em Watchmen. O cara é uma aberração azul brilhante, fruto de um acidente nuclear, tendo sido usado como arma de guerra do governo americano no Vietnã. Junto com ele mora Laurie Juspeczyk, filha da ex-heroína Sally Jupiter. O interressante nesse capítulo é que Rorschach parece ser o único incomodado com a morte do Comediante. Os demais não demonstram qualquer tipo consideração pelo ex-companheiro morto.
O Capítulo 2 de Watchmen começa no enterro do Comediante. A história então dá um flashback para os tempos em que os heróis mascarados eram queridos pela população. Juntos eles formavam o grupo Combatentes do Crime, sendo liderados pelo Capitão Metrópole, codinome de Nelson Gardner. Ainda no cemitério, cada um de seus ex-companheiros relembra silenciosamente fatos que marcaram a vida do Comediante. O cara era um porra-louca.
O terceiro e último capítulo de Watchmen - Volume 1 aborda as consequencias da briga amorosa entre Laurie e Dr. Manhattan. A impressa coloca o azul na parede. As pessoas acusam-no de causar câncer em todos ao seu redor. O cara enlouquece e deixa o planeta Terra. O capítulo termina com o alerta sobre uma possível guerra nuclear contra a União Soviética.
No final de cada capítulo existem trechos do fictício livro "Sob o Capuz", autobiografia de Hollis Manson, o primeiro aventureiro mascarado a vestir a fantasia de Coruja. É uma oportunidade que o leitor tem de entender melhor a história e a motivação de cada personagem. Nesse primeiro volume, Watchmen me chamou atenção pela quantidade de assuntos adultos como guerra, política, estupro, sexo e assassinatos. Watchmen transformou o gibi numa sofisticada ferramenta ideológica.
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