domingo, 14 de agosto de 2005 às 02:23

Amor é Prosa, Sexo é Poesia - Crônicas Afetivas: boa leitura, mesmo com o excesso de teatralidade

Amor é Prosa, Sexo é PoesiaO livro Amor é Prosa, Sexo é Poesia - Crônicas Afetivas (Editora Objetiva, 2004) é um apanhado de crônicas afetivas escritas pelo extra-série Arnaldo Jabor. É uma anormalidade percorrer a alma feminina na visão de um homem, que segundo ele próprio, nasceu para ser travesti. "O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida. [...] Mas não é um mundo delicado, romântico e fértil da mulher, é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti".

Jabor ostenta um variada constelação semântica, deixando suas tiradas sempre oportunas e contextualizadas. Embora é preciso dizer que o autor é repetitivo em seus exemplos, além de adorar frases de efeito. Amor é Prosa, Sexo é Poesia mostra um Jabor saudosista. Tudo para ele é saudade. Tudo era melhor no passado. Tudo era mais romântico. Ele menospreza os anos 80 e 90. Em muitos momentos vi um homem perdido no tempo, sem conseguir cortar as amarras de sua geração.

Jabor entende que a "publicidade devastou o amor, falando na 'gasolina que eu amo', no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir". Um tapa na cara daqueles que apostam no Marketing Afetivo. Corroborando com Jabor, Humberto Gessinger dos Engenheiros do Hawaii, escreveu a letra da música "3ª do Plural", onde ele diz: "eles querem te vender/eles querem te comprar/querem te matar de rir/eles querem te fazer chorar/quem são eles?/quem eles pensam que são?". A arte faz seu papel de denunciar os excessos, cabe a nós, mercadólogos, abraçar a ética e dormir com ela todos os dias.

Voltando ao Amor é Prosa, Sexo é Poesia, Jabor supera-se, ao escrever: "Se antes, havia a polarização de ideologias em oposições binárias, pretos contra brancos, socialismo versus capitalismo, isso vinha da idéia de 'sistema e contra-sistema', de cultura e contra-cultura. Tudo era banhado pela luz vertical e orwelliana das televisões massificadas, de uma mídia centralizada, buscando uma narrativa única. Vemos agora que a distopia iluminista de Orwell foi passada pelos restos podres do mercado e pela anomia (e anemia) de qualquer projeto totalitário". Apesar do excesso de teatralidade, Amor é Prosa, Sexo é Poesia vale a leitura. Nota 3/5
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