terça-feira, 18 de outubro de 2005 às 23:20

Dossiê Brasília - O Segredo dos Presidentes: mostrando que teoria e prática não andam juntas

Dossiê Brasília - O Segredo dos PresidentesTodas as vezes que leio o título desse livro escuto a voz do Cid Moreira. O livro Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes (Editora Globo, 2005) derivou de uma série de reportagens apresentadas no Fantástico. O jornalista Geneton Moraes Neto entrevistou os quatro últimos ex-presidentes do Brasil (José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso), objetivando descobrir quais os segredos que os presidentes tiveram que guardar quando estavam no poder, mas que hoje poderiam revelar ao país. A princípio, fascinante. Geneton explica que ao final da maratona de gravação e edição dos depoimentos, ele tinha um tesouro em mãos: dez fitas de vídeo com todas as entrevistas na íntegra. O jornalista transcreveu integralmente o conteúdo, o que acabou sendo transformado num livro.

Sem dúvida alguma, a melhor entrevista foi a de José Sarney. O mais aberto, mais maduro e intelectualmente o mais completo em suas respostas. O ex-presidente cita seu amigo Afonso Arinos de Melo Franco, que dizia: "há uma grande diferença entre os presidentes nordestinos e os presidentes do Sul. Quando o presidente é de Minas Gerais, os mineiros vêm e pedem a embaixada em Paris. Quando presidente é de São Paulo, os paulistas vêm e pedem o Ministério da Fazenda, o Banco do Brasil ou o Banco Central. Quando o presidente é do Nordeste, os parentes vêm e pedem um lugar de ascensorista". Sarney governou de 15 de março de 1985 a 15 de março de 1990.

Fernando Collor de Mello (ergh!), de andar empertigado, olhar desafiador e peito estufado, que olhava os outros mortais com ar de olímpica superioridade, segundo Geneton, já não existe mais. Descobriu tarde que o poder é efêmero. Collor tentou mostrar na entrevista que foi um injustiçado, pois foi traído e punido sem o devido processo legal. Mas uma coisa ele deixa de lição: "não se pode julgar um presidente como se fosse um líder de grêmio estudantil". Ele foi presidente entre 15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992, quando sofreu o processo de impeachment. Segundo ele, "política nunca mais". Saravá!

E quem entrou no lugar de Collor? O mineirinho Itamar Franco. Governou entre 2 de outubro de 1992 a 1º de janeiro de 1995. A entrevista foi extremamente chata. Ele é cheio de traumas, rancores e mágoas. Vive repetindo que não foi presidente por sorte, que o Plano Real é criação dele, que elegeu FHC e que São Paulo não o ama. A única coisa boa da entrevista é sua defesa do regime parlamentarista. Nisso eu concordo com Itamar.

A famosa e recente "Era FHC" começou em 1º de janeiro de 1995 e terminou em 1º de janeiro de 2003. Vade retro. A entrevista é de um intelectual, com respostas bem estruturadas. Fernando Henrique Cardoso mostrou que, ao contrário do que muitos dizem, nunca abandonou seus princípios da época que lecionava sociologia. FHC constata: "a fisiologia do Congresso Nacional é uma tragédia". O ex-presidente refere-se à conduta de certos representantes públicos que visa à satisfação de interesses pessoais e partidários, em detrimento do bem comum. Infelizmente teoria e prática não andam de mãos dadas.

O livro Dossiê Brasília: os Segredos dos Presidentes ainda trás um bônus que eu não esperava. Uma entrevista com Luís Inácio Lula da Silva, em 1979. Memorável, surpreendente e emocionante. Parabéns ao jornalista Geneton Moraes Neto pelas descrições esmiuçadas durante suas entrevistas, pela categoria nas perguntas e competência de um verdadeiro arqueólogo. Nota 2/5
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