quinta-feira, 27 de setembro de 2007 às 02:27

Sicko - S.O.S. Saúde: um coquetel-molotov fumegante na cabeça do Tio Sam

Sicko - S.O.S. Saúde (Sicko, 2007) é o novíssimo trabalho do extra-série Michael Moore, o responsável pelo histórico documentário "Fahrenheit 9/11" (2004). E como sempre, mais uma polêmica para o currículo do cineasta: um dossiê sobre o sistema de saúde pública dos Estados Unidos.

O resultado é um coquetel-molotov fumegante lançado bem no meio da cabeça do Tio Sam. Uma crítica ferrenha e bem arquitetada ao Império Yankee. Não serei cínico, confesso que senti certo prazer em vê o descontrole americano numa área tão essencial como a saúde.

O filme começa mostrando os truques usados por alguns americanos para receber atendimento em hospitais do Canadá. Depois Moore nos levar à Inglaterra. Na terra da Rainha ele conhece o Serviço Nacional de Saúde Britânico. Logo depois a viagem segue até a França. As descobertas de um americano em Paris chamam atenção pelas inúmeras diferenças em áreas como saúde, jornada de trabalho, férias e tudo que envolve "direitos sociais".

O xeque-mate foi levar alguns dos personagens do documentário (os doentes americanos) para buscar assistência médica gratuita em Havana, Cuba. Sensacional! O impacto simbólico desse aventura foi tão grande que o Departamento do Tesouro abriu uma investigação em relação a essa viagem. Uma clara demonstração de perseguição ao maior opositor do Governo Bush.

No longa Michael Moore diz que existem 50 milhões de norte-americanos sem seguro médico. "Eles rezam todos os dias para não ficarem doentes porque 18.000 deles morrerão neste ano, simplesmente porque eles não tem seguro". O cineasta faz revelações sobre as Companhias de Seguros de Saúde dos EUA, mostrando a forma como agem para aumentar seus lucros.

      

O sonho americano não é tão dourado como aparenta. Pessoas bem sucedidas falam no documentário que perderam tudo graças a tratamentos de saúde caros. Idosos de 80 anos muitas vezes são obrigados a trabalhar para poder comprar remédios que necessitam. Pessoas gordas demais ou muito magras são rejeitadas pelos severos critérios das Companhias de Seguro.

E o porquê de tudo isso? Num dos melhores momentos do filme, um estudioso traça uma visão perturbadora do controle social exercido pelo sistema para dominar a população. A distopia literária da década de 40, enfim, ganha corpo, torna-se real, Sicko nos mostra um futuro ainda mais opressivo e destruidor. A dominação não só ocorre diante de nossos olhos, como nós a validamos diariamente.

"Acho que a democracia é a coisa mais revolucionária do mundo. Mais revolucionária do que idéias socialistas ou de qualquer outra pessoa. Se tiver poder, ele é usado para prover as suas necessidades e as da sua comunidade. E esta idéia de escolha, de que o capital fala constantemente, 'tem que ter uma escolha', a escolha depende da liberdade de escolher. E se estiver coberto de dívidas, não tem liberdade de escolha.

Parece que o sistema beneficia se o trabalhador comum estiver coberto de dívidas. As pessoas em dívida perdem a esperança, e pessoas sem esperança não votam. Dizem que toda as pessoas devem votar, mas acho que se os pobres na Grã-Bretanha ou nos Estados Unidos, parecem que votassem em pessoas que representassem os seus interesses, seria uma verdadeira revolução democrática. E não querem que isso aconteça, por isso mantém as pessoas oprimidas e pessimistas. Creio que há duas formas nas quais as pessoas são controladas: em primeiro lugar, assustar as pessoas e em segundo, desmoralizá-las.

      

Uma nação educada, saudável e confiante é mais difícil de governar. E acho que há um elemento no pensamento de algumas pessoas, 'não queremos que as pessoas sejam educadas, saudáveis e confiantes, porque ficariam fora de controle'. 1% da população mundial detém 80% da riqueza. É incrível que as pessoas tolerem isso, mas elas são pobres, estão desmoralizadas, estão assustadas. E então, pensam que o mais seguro é seguir ordens e esperar o melhor."

Somos verdadeiramente livres? Por que o povo americano não faz nada? Medo do Governo? E no Brasil? Somos tão diferentes assim? Nossos hospitais funcionam? Estamos felizes com nossos Planos de Saúde? É possível uma saúde pública de qualidade? Ou isso é um sonho impossível para os brasileiros?

Sicko é uma belíssima demonstração de inteligência americana. Duas horas de revelações intrigantes, como a emblemática história do sujeito que perdeu dois dedos e teve que escolher apenas um deles para repor, já que não tinha o dinheiro suficiente. E como todo documentário de Moore, não podia faltar Bush falando asneiras. A diferença é que em Sicko o cineasta põe parte da culpa na imprensa: "Elas [TVs americanas] ajudaram o presidente Bush a mentir para o povo americano, não fizeram perguntas difíceis, são cúmplices de Bush". Pá pá pá, cuidado para não levar um tiro na testa. Nota 3/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

Comentários
0 Comentários

0 [+] :

Postar um comentário

Related Posts Plugin for Blogger...