sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008 às 13:16

O Cheiro do Ralo: um cachorro tentando morder o próprio rabo

Com exceção de "Tropa de Elite", O Cheiro do Ralo (O Cheiro do Ralo, 2007) — adaptado do livro homônimo do quadrinista Lourenço Mutarelli — foi o filme brasileiro mais comentado do ano passado. Li críticas fabulosas sobre a direção de Heitor Dhalia e a atuação de Selton Mello. Se não bastasse, o longa é vencedor do Prêmio Especial do Júri e de Melhor Ator (Selton Mello) no Festival do Rio. Também bateu os concorrentes na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, vencendo na categoria Melhor Filme - Júri Oficial e o Prêmio da Crítica - Nacional.

O problema é que não gostei do filme. Confesso que estou na dúvida se devo ou não cair na besteira de criticar O Cheiro do Ralo. De um lado meu "refinado" gosto cinematográfico, do outro críticos gabaritados e suas analogias sofisticadas. Esse é meu dilema. Nesse caso, acho melhor ser sincero, mas tomando o cuidado de especificar claramente o que não gostei e o porquê. Pois gosto é que nem nariz.

Começando... Lourenço (Selton Mello) é o dono de uma loja que compra objetos usados. Aos poucos ele desenvolve um jogo de poder com seus clientes. Ele troca a frieza inicial com que conduz as negociações, pelo prazer orgástico que sente ao explorá-los, já que sempre estão em sérias dificuldades financeiras. Ao mesmo tempo Lourenço passa a ver as pessoas como se estivessem à venda, identificando-as através de uma característica ou um objeto que lhe é oferecido.

      

Não gostei do enredo. Romances de obsessão não fazem meu gênero. O protagonista é doente. Eu já vi várias histórias de malucos tarados por alguma coisa, mas Lourenço é o maior. Mesquinho, manipula seus pares em busca de um sentido para sua vida medíocre. É o típico sujeito que nasceu para viver sozinho. Fico imaginando o drama que a pobre da noiva dele iria passar, caso a união tivesse concretizado. O pior é que descobrimos posteriormente, que ela é tão louca quanto ele.

Também não gostei do ritmo da história. Todo tipo de personagem vai entrando e saindo do escritório querendo vender suas tranqueiras. Achei hipnótico demais. Um mantra envolvendo cada negociação e do tal cheiro do ralo. É como um cachorro que tenta morder o próprio rabo. Basta alguém entrar no escritório para sentir o cheiro de merda que sai do ralo. Lourenço sempre avisa: "é o ralo, o cheiro é do ralo do banheiro que está entupido". Mas a porra do cheiro é viciante e aos poucos vai enlouquecendo (ou seria entorpecendo?) o sujeito. O filme não chega a ser engraçado, mas algumas cenas — de tão toscas e grotescas — são de fácil risada.

      

No meio da história surge um caso de amor entre Lourenço e a bunda de uma garçonete. Tarado pela bunda dela, ele todo dia vai à lanchonete comer hambúrguer. A comida do lugar é péssima, mas a bunda da garçonete é linda. O hambúrguer, claro, não cai bem no seu estômago, resultado: quando chega no escritório corre ao vaso sanitário. Mas o vaso está entupido, o que deixa todo o ambiente com cheiro de merda. Concluindo: o cheiro de merda é culpa da bunda da garçonete.

Com jeitão de anos 80 e uma temática bem acima de minha capacidade cultural, não conseguiu alcançar o conteúdo ideológico do filme. Antigüidades, bundas, merda, perversão, revólver, olho de vidro. Não saquei. É como se O Cheiro do Ralo estivesse trancado num quarto. Pela fechadura consigo enxergar boas coisas lá dentro (a bunda, por exemplo), o problema é que ainda não tenho a chave. Por não saber o que contém O Cheiro do Ralo, digo que não gostei do filme. Nota 1/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

Comentários
1 Comentários

1 [+] :

Anônimo disse...

Você não gostou? Ninguém gosta de ser desmascarado!

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