No começo fiquei até meio incomodado com tantas referências ao filme dos irmãos Wachowski. As cenas em slow motion, as paredes se esticando como borracha, o desprezo pelos limites da física, o apelo às armas, as cenas de tiroteio, o processo de conversão de um cidadão comum em "herói" (o Escolhido), o ambiente enfadonho, a rotina, o emprego chato e, principalmente, a pergunta dita e repetida pelo protagonista: será tudo isso um sonho?
Até mesmo a cena de bullet-time O Procurado copiou. Só que ao invés do homem se desviar da bala, a bala desvia do homem. Esqueça tudo que eu disse sobre um tiro perfeito em "O Atirador" (leia a resenha), aqui até moscas perdem suas asas com a precisão cirúrgica dos assassinos. Em algumas cenas o filme também é bem parecido com "Clube da Luta" (1999), como no processo de treinamento (espancamento) do protagonista e na própria concepção física do personagem.
Em "Matrix" Neo é recrutado por Trinity. No caso de O Procurado, a mulher em questão é Fox (Angelina Jolie). Ela usa seu poder de persuasão para convencer o jovem Wesley Gibson (James McAvoy) de suas boas intenções. O Morpheus da história é Sloan (Morgan Freeman), homem que comanda uma sociedade secreta milenar chamada de Fraternidade. O grupo, criado por um clã de tecelões, recruta assassinos que silenciosamente promovem execuções para "restabelecer a ordem num mundo à beira do caos".
Essa parte da mitologia é bem fraca. No filme o nome das pessoas que devem ser assassinadas aparece criptografado em tecidos. Ficaria mais divertido se fossem em obras de arte, músicas, na Bíblia, sei lá, mas em tecido? O fato é que isso não tira em nada o brilho de O Procurado. As cenas de ação, principalmente envolvendo carros, são sensacionais, perseguições de tirar o fôlego. Fora que Angelina Jolie seminua, toda tatuada, com uma maquiagem pesada e cara de bad-girl, é surreal.
Do meio pro o fim o filme dá uma virada bem bacana. Achei até que eles já estariam preparando uma continuação, mas pelo desenrolar dos fatos acredito que isso não seja possível. É nesse instante que O Procurado ganha personalidade, mostra coragem, força própria e capacidade de inventividade. No final o filme acabou sendo traído pela presunção exagerada, caindo na estupidez de chamar o expectador de patético, inclusive nos questionando sobre os rumos que temos dado às nossas vidas. O Procurado não tem autoridade pra tanto.
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