Um desses livros importantes que ainda não li é "As Crônicas de Nárnia", série de aventura fantástica escrita pelo irlandês C.S. Lewis. Não que sua criação contenha algum diferencial estilístico ou inovação conceitual, longe disso, sua obra é um mero arcabouço do que seu contemporâneo J.R.R. Tolkien reproduziu com maestria alguns anos depois. O que interessa na obra de Lewis é a polêmica em torno da apologia cristã. Muitos religiosos acreditam que a série é uma excelente ferramenta de evangelização, enquanto outros enxergam no texto códigos subliminares de valores pagãos.
Com o lançamento em 2005 do filme "As Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" (leia a resenha), essa bomba santa aumentou seu poder de alcance. O filme mostrava crianças manuseando espadas, líquidos milagrosos que ressuscitavam pessoas e até um papai noel guerrilheiro. Estranho, mas nada que pudesse despertar a ira eclesiástica. Fiquei decepcionado. Sem história, sem polêmica e sem ajuda de grandes atores, o filme se tornou um programa extremamente infantil. Ganhou alguns prêmios por maquiagem e efeitos especiais, mas nada além disso.
O começo do filme é bem empolgante, mostra a fuga de Caspian (Ben Barnes), herdeiro do trono de Nárnia. Ele tenta escapar das garras de seu tio Miraz (Sergio Castellitto). Com o sumiço de Caspian, o vilão é proclamado rei. Até aí a história caminhava bem, mas bastou entrar em cena os irmãos Lucy (Georgie Henley), Edmund (Skandar Keynes), Susan (Anna Popplewell) e Peter (William Moseley), para a coisa começar a desandar.
Nada contra castores falantes, ratos espadachins e os diversos animais mitológicos presentes em cena. Minha única reclamação é com a dupla de protagonistas juvenis: Peter e Caspian. Os meninos tentam conduzir um exército sem a menor capacidade de liderança. A disputa de poder entre eles poderia ser uma ótima vertente, mas nem isso os coitados foram capazes de representar com veracidade. Pior só o duelo final entre Peter e Miraz. Uma criança e um adulto num jogo débil e imoral (vejam só).
As Crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian poderia ter sido muito mais contundente ao explorar a temática cristã. O filme deveria ter tomado partido e oferecido a cara a tapa. Todo mundo quer entretenimento, mas um pouco de polêmica nunca fez mal a ninguém. Com um pé na realidade, Nárnia ganharia novos moradores e afastaria o risco de extinção. Mas pelo desenrolar dos fatos, os narnianos terão que contentar-se com seu príncipe meia-boca. A verdade é que As Crônicas de Nárnia afugentou os adultos ao transformar o debate ético num mero apêndice comercial.
Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.
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