Mesmo tendo frequentado por alguns anos um escola religiosa e tido aula de religião, não sei quase nada das histórias presentes na Bíblia. As poucas que sei dizem respeito ao mito da criação, mas sem muitos detalhes. Mas adianto que isso não me impediu de apreciar a narrativa de Saramago.
O livro como o título se refere, trata a história de Caim, o filho de Adão e Eva que cometeu o maior dos crimes: assassinou seu irmão. O crime foi premeditado, já que antes do ocorrido ele escondeu num campo aberto uma queixada de jumento que seria usada no crime.
O homicídio se deu devido às diferenças entre ambos. Enquanto um era agricultor, o outro era pecuarista. Durante as oferendas a Deus, as de Abel sempre eram aceitas, enquanto as de Caim não. Isso criou em Caim um rancor contra Deus, que culminou com o assassinato de seu irmão.
Com esse crime, Caim é condenado pelo Senhor a vagar pelo mundo. Para que se cumpra a sentença (e nada que atente contra sua vida), Deus o marca com um sinal negro na testa, para que sempre lembre seu pecado.
É nesse ponto que a trama fica interessante. Caim não apenas vagará pelo mundo como um condenado, mas também pelo tempo, passando por várias épocas da Bíblia. Em todas as passagens ele refletirá quais as intenções de Deus, pois ele observa muita destruição e morte ao seu mando. É como se fôssemos apenas fantoches controlados por um louco.
Outro ponto alto do livro é o constante diálogo entre Caim e Deus O primeiro ocorre no momento exato que ele assassina seu irmão. Sua retórica é tão precisa que ele consegue apenas ser castigado. Em várias partes do livro ocorrem essas conversas, sempre com ótimas argumentações tanto da parte de Deus, como de Caim. Um detalhe interessante que notei, por ser esse meu primeiro romance de Saramago, o autor não usa travessões e quebra de linhas para marcar melhor os diálogos.