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É interessante dizer isso logo no início pois foi a primeira coisa que aprendi lendo a biografia Bussunda - A Vida do Casseta, escrita pelo jornalista Guilherme Fiuza. O livro poderia facilmente se chamar "Bussunda, o errado que deu certo", pois ele era aquele universitário típico. Passava trotes, promovia sacanagens com professores, comandava brincadeiras com mendigos e todo tipo de putaria que alguém possa imaginar. Ele literalmente foi dado como caso perdido. A família fez até pacto para que os irmãos sustentassem o vagabundo até o fim.
Mas como todo moleque esculhambado, Bussunda era popular. Foi nesse período que conheceu o companheiro Hélio de la Peña. Achei muito legal a relação entre os dois. O autor soube descrever com detalhes histórias curiosas daquele período. Inclusive o livro tem uma espécie de mini-biografia do Hélio. Bem emocionante por sinal. Na mesma época os outros malucos foram se juntando: Reinaldo, Cláudio Manoel, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hubert. Pirados e cheios de ideias anarquistas, fundaram o Casseta & Planeta.
A sinergia foi imediata. De forma improvável conseguiram emplacar na Rede Globo o roteiro do programa TV Pirata. Para quem não sabe, hoje a série de humor é considerada por muitos como o mais genial da TV brasileira. A rápida ascensão trouxe um pouco de arrogância à turma. Eles chegaram a soltar piadas sobre grandes gênios de humor como Chico Anysio e Ziraldo. Nessa parte o livro estimula outras reflexões sobre os limites do "politicamente incorreto". Hoje temos o exemplo do Rafinha Bastos, que vive sendo criticado por suas piadas contra mulheres e religiosos. Bussunda viveu tudo isso.
Sobrou até para o Zico, considerado um deus pelo flamenguista Bussunda. Depois de uma piada de gosto duvido, teve que escutar um desaforo do Galinho. Bussunda ficou bem abatido. O que era uma raridade. O livro descreve Bussunda como um sujeito muito positivista e carismático. Sempre disposto a correr atrás de suas paixões. Ironicamente morreu por conta da maior delas: o futebol. Durante a Copa do Mundo de 2006, numa pelada com os amigos. O coração não resistiu e parou. Era o fim que ninguém esperava.
Morreu Bussunda, que venceu preconceiros e alcançou o sucesso. Nisso o livro é perfeito. Descreve bem a trajetória. Infelizmente o autor se perdeu ao costurar os eventos ao longo do tempo. Ficou um vai e volta confuso. No meu entender faltou uma cronologia. Outro ponto fraco é a tentativa recorrente do autor em procurar justificativas psico-sociais para o comportamento "bussundesco". Também achei que houve um excesso nas histórias do Casseta & Planeta, afinal, não é a biografia do programa!
Talvez a exploração dos bastidores do Casseta seja por falta de histórias do Bussunda. De todo modo, é inegável que o programa representava -- como descrito no livro -- um ente multicéfalo que triturava tensões e mágoas sempre se estabilizando e caminhando. Bussunda nessa engrenagem exercia uma liderança natural. Era o protanista. Por isso gostei de descobrir as histórias pré-TV, a origem da vertente musical, as rixas políticas, a ascensão financeira do grupo e os arrepiantes bastidores da Globo. A Vida do Casseta provou que além de humorista multiplataforma, Bussunda foi um ser humano que deu erradamente certo.
Ficha técnica:
Título original: Bussunda - A Vida do CassetaOutras resenhas sobre o assunto:
Editora: Objetiva
Autor: Guilherme Fiuza
ISBN: 9788539000548
Ano: 2010
Número de páginas: 408
Acabamento: Brochura
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