sexta-feira, 30 de junho de 2006 às 00:02

Céu Azul: a Coréia mostrando que dias maravilhosos nos aguardam

Como será a vida no ano de 2140? Que futuro nos reserva? Iremos controlar a poluição? As doenças? As guerras continuarão? O que restará do ser humano que conhecemos hoje? Céu Azul (Wonderful Days, 2003) é uma animação produzida na Coréia do Sul que nos provoca todas essas dúvidas, mas de uma maneira especial, através da poesia.

O filme apresenta uma visão pessimista do futuro da terra. Impossível não associar com os grandes livros da distopia, como "1984" (1948, leia meu post), "Fahrenheit 451" (1953) e, principalmente, "Admirável Mundo Novo" (1932). O próprio título original do filme usa o mesmo recurso sarcástico de Aldous Huxley.

No filme, a poluição e os desastres ambientais deixaram a terra à beira da extinção. Apenas uns poucos membros de uma elite detentora de poder e tecnologia prosperam na rica cidade de Ecoban, localizada numa ilha do Pacífico Sul. A cidade cresce como uma planta viva, utilizando seu sistema Delos para transformar compostos do carbono em energia limpa. Isso quer dizer que além de proteger os habitantes da poluição, ela alimenta-se de sua própria sujeira. Mas isso tem um preço, quando os índices de poluição baixam, dando esperança à humanidade, as máquinas poluem tudo novamente.

      

Como toda história sobre distopia, o futuro pós-apocalíptico mostrado no filme mostra duas classes sociais. Uma é a elite, formada por aqueles que administram a cidade de Ecoban, e a outra é a pobreza, sobreviventes alojados próximos aos muros da cidade. Cansados do trabalho escravocrata que fazem a Ecoban, os excluídos organizam uma rebelião objetivando desligar as máquinas que poluem a cidade.

O pano de fundo dessa história é o triângulo amoroso formado por Shua, Jay e Cade. Shua é um jovem rebelde que foi expulso de Ecoban ainda criança. Ele e Jay viviam apaixonadamente até sofrerem um atentado do desamado Cade. Isso põe fim ao romance e transforma Jay numa guardiã de Ecoban. Tudo ia bem até Shua reaparecer e fazer emergir todos aqueles velhos sentimentos.

A poesia da história fica por conta das cenas em slow-motion, conduzidas por uma poderosa orquestra sinfônica produzida por Sim Jaell e Won Il. A cena final é uma grande ópera futurista, uma tragédia shakesperiana de fazer inveja a grandes clássicos. Os três personagens que pareciam distantes, inimigos, rivais, de repente, tornam-se um só. Gran-di-o-so.

Céu Azul é um filme inspirado numa antiga poesia, devaneios de um garoto que sonhava encontrar um lugar entre as nuvens, um lugar acima daqueles que fazem guerra, acima daqueles que odiavam a quem ele tanto amava. Poético.

      

Tecnicamente Céu Azul também é muito bom. Ele mistura animação 2-D, 3-D e miniaturas. Em alguns momentos eu jurava está diante de imagens reais, como na cena dos pingos da chuva perturbando as tristes noites. A fotografia chama atenção pelo contraste entre as cores quentes [esperança] e o preto acinzentado [desilusão].

Céu Azul é o filme de animação mais caro da história do cinema coreano. Esse é o primeiro trabalho de animação feito pelo premiado diretor Kim Moon-Saeng para o cinema. Com mais de vinte anos de experiência, Moon é famoso por publicidades televisivas para a Coca-Cola e Cheetos. Já na versão americana de Céu Azul, a direção ficou por conta de Sunmin Park.

Céu Azul é uma produção realmente impressionante. Um trabalho para mostrar ao mundo o que os animadores coreanos são capazes de fazer. Apesar de não ter feito o sucesso comercial esperado, Céu Azul é uma prova que Japão e Coréia do Sul estão lado a lado quando o assunto é tecnologia. Estou viciado em Anime. Nota 5/5

Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.

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