O filme é um clássico. Basta dizer que o roteiro de Herman J. Mankiewicz e Orson Welles venceu o Oscar e, recentemente, foi eleito o quarto melhor da história do cinema, em uma votação realizada pelo Writers Guild of America, que reúne roteiristas de Hollywood.
O grande nome do filme é, indiscutivelmente, Orson Welles. Ele é o diretor, roteirista, produtor e protagonista do filme. Tudo isso aos 25 anos de idade! Antes de Cidadão Kane, o rapaz ficou famoso quando, em 1939, transmitiu um programa de rádio em que simulava uma invasão de marcianos nos Estados Unidos. Baseado no livro "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, a transmissão radiofônica pareceu tão real que a cidade inteira entrou em pânico. Em 2005 Steven Spielberg levou o livro para as telas (leia meu post).
Dentre as diversas inovações, a mais forte é o roteiro não linear. Logo no início do filme Kane aparece morto em seu castelo Xanadu. A partir daí um grupo de jornalistas é escalado para tentar decifrar o significado de "Rosebud", última palavra dita por Kane antes de morrer [ressalta-se que ninguém no filme sabe se essa foi realmente a última palavra de Kane, pois o cidadão morreu sozinho].
Para aumentar a complexidade do roteiro, Orson Welles introduziu uma série de flashbacks em formato de depoimentos. Nisso a história vai sendo construída sob diversas perspectivas. Tudo em um ritmo frenético, estilo investigação documental.
Tecnicamente Cidadão Kane também trouxe profundas contribuições para mudar o jeito de fazer cinema. Segundo especialistas, Welles criou uma lente especial que dá impressão de profundidade do foco. Ele também usou a câmara de um ângulo baixo, quando queria representar a insignificância dos personagens e ângulo alto, quando queria acentuar a grandeza. Hoje em dia isso parece simples, mas volte 60 anos no tempo...
Ainda não vi o vídeo, mas pelo que li ele mostra um olhar ousado e devastador do império que a TV Rede Globo montou no Brasil. A reportagem que li diz que o vídeo tem reprodução proibida pela justiça, mas na internet existem alguns links, como no Google Vídeo e no Centro de Mídia Independente.
Eu ainda não tenho uma opinião formada sobre tudo isso. De certo que preciso assistir Cidadão Kane mais algumas vezes. O filme não conseguiu me colocar no grupo "Abaixo Globo!". Mas apesar de não gostar de TV, acredito que o modelo digital irá revolucionar esse veículo e oportunizar uma maior democratização do seu conteúdo. Eu imagino a TV do século XXI como uma espécie de internet light. Ou será que Roberto Kane Marinho irá reencarnar e acabar com tudo isso?
Confira o trailer clicando no botão play da imagem abaixo.