É importante dizer que todas essas histórias não eram destinadas ao público infantil e sim aos adultos. Foram os irmãos Grimm que as adaptaram às crianças através do uso de temática mágica e maravilhosa. Fundiram, assim, esses dois universos: o popular e o infantil.
Mas os Contos de Grimm não são propriamente contos de fadas, eles distribuem-se em: 1) Contos de encantamento (histórias que apresentam metamorfoses, ou transformações, a maioria por encantamento); 2) Contos maravilhosos (histórias que apresentam o elemento mágico, sobrenatural, integrado naturalmente nas situações apresentadas); 3) Fábulas (histórias vividas por animais); 4) Lendas (histórias ligadas ao princípio dos tempos ou da comunidade e onde o mágico aparece como "milagre" ligado a uma divindade); 5) Contos de enigma ou mistério (histórias que têm como eixo um enigma a ser desvendado); e 6) Contos jocosos (humorísticos ou divertidos).
O livro Contos de Fadas (2002) diz que a característica básica de tais narrativas (qualquer que seja sua espécie literária) é a de apresentar uma problemática simples, um só núcleo dramático. A repetição, ou reiteração, juntamente com a simplicidade de problemática e da estrutura narrativa, é outro elemento constitutivo básico dos contos populares. Da mesma forma que a simplicidade da mente popular, ou da infantil, repudia as estruturas narrativas complexas (devido à dificuldade de compreensão imediata que elas apresentam), também se desinteressam da matéria literária que apresente excessiva variedade, ou novidades que alterem continuamente as estruturas básicas já conhecidas.
Vários críticos dizem que as histórias dos Grimm incentivam o conformismo e a submissão. Concordo em parte, mesmo assim, a permanência dessas narrativas oriundas da tradição popular, justifica o destaque conferido a estes autores alemães.A verdade é que os fãs de do texto de Shrek vão gostar de Os Irmãos Grimm, o filme tem um pouco de "A Bela Adormecida", "Branca de Neve", "Chapeuzinho Vermelho", "Cinderela", "João e Maria", "O Gato de Botas", "O Pequeno Polegar" e "Rapunzel". E claro com "era uma vez..." no começo e "foram felizes para sempre" no final.
O filme Os Irmãos Grimm não se trata de uma cinebiografia. Acho que a trajetória de vida dos Grimm foi até muito chata. Talvez por isso o roteirista Ehren Krueger tenha feito um texto tão maluco. E ser maluco para mim é qualidade. Ele pegou um roteiro juntando um pouco de cada história dos Grimm. Ressalta-se que Terry Gilliam e Tony Grisoni fizeram muitas modificações no roteiro original, mas devido a problemas que possuíam com o Writers Guild of America (o sindicato de roteiristas dos Estados Unidos), eles não puderam ser creditados como roteiristas.
Na história do filme Wilhelm Grimm (Matt Damon) e Jacob Grimm (Heath Ledger) são dois trambiqueiros que vagam pelas pequenas vilas no interior da Alemanha vendendo serviços de caça às bruxas. Eles enganam os pobres camponeses através de encenações com bruxas e monstros. Quando a farsa é descoberta pelas tropas do exército de Napoleão Bonaparte, a dupla é forçada a investigar o seqüestro de crianças numa pequena vila alemã. O problema é que dessa vez não era nenhum farsante e sim uma bruxa de verdade.
O diretor Terry Gilliam foi muito elogiado pelo humor politicamente incorreto mostrado no filme, tudo é motivo pra piada. O clima meio dark também ajudou a derrubar a idéia criada por Walt Disney, que as obras dos Grimm são aquelas fábulas debilóides mostradas em seus desenhos. Por tudo isso eu recomendo Os Irmãos Grimm para todas as idades, mas principalmente para as crianças. Mostrar diferentes perspectivas de uma mesma história é um passo importante para o amadurecimento da capacidade crítica.
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