Hellboy 2 - O Exército Dourado: a diabólica e autodestrutiva natureza do amor

Saído das profundezas do inferno, o primeiro "Hellboy" lançado em 2004 foi divertido (leia a resenha), mas os efeitos visuais me lembraram os clássicos episódios de Changeman/Jaspion. Quatro anos depois Hellboy 2 - O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, 2008), o segundo filme do herói-demônio adaptado dos quadrinhos de Mike Mignola, passou por uma drástica evolução visual, candidatando-se a clássico do gênero. Hoje, Hellboy 2 está na lista de melhores do ano, isso não há dúvida. O filme segue uma levada alucinante envolvendo aventura fantástica, comédia e romance trágico.

As criaturas mostradas em Hellboy 2 são o que há de mais moderno em concepção visual. A cena da feira-livre povoada de elfos, trolls e outros mitos das florestas, é um cardápio de personagens estranhos e divertidos. Achei o filme visualmente bastante realista, os monstros estão a poucos degraus dos efeitos de "O Senhor dos Anéis". E isso é fantástico, já que o diretor mexicano Guillermo del Toro assumiu a cadeira de Peter Jackson e irá comandar "O Hobbit" (leia a resenha), previsto para 2010. Uma pena que Hellboy 2 ainda conte com figuras grotescas como um cabeça-de-fumaça e um monstruoso pé-de-feijão gigante.

Hellboy 2 - O Exército Dourado

Independente de qualquer divergência conceitual, todos são unânimes em identificar no filme uma vocação cômica. Igualmente ao primeiro, sobressaem-se piadas calculadas e espontâneas. Hellboy (Ron Perlman) lembra um pouco Seu Nunga (tolerância zero!). O cabra parte logo pra ignorância. Não poupa nem uma mãe com seu bebê de colo (na verdade não é um bebê e sim um tumor, mas isso só descobrimos depois). Destaco aqui a cena em que ele fica bêbado com seu amigo aquático Abe Sapien (Doug Jones). Mal amada, a dupla canta dor-de-cotovelo ao som de "Can’t Smile Without You", do Barry Manilow. A sequência é medonha.

Enquanto não passa de piada, a conturbada relação conjugal de Hellboy com Liz Sherman (Selma Blair) é bem divertida. Existe até uma certa identificação com o casal. Pequenas disputas por espaço, diálogos ríspidos, temperamentos diferentes, coisas do cotidiano. Porém, quando O Exército Dourado resolve acreditar no romance entre o cara-de-peixe e a princesa Nuala (Anna Walton), a história perde a graça. O filme ganha contornos shakespearianos, culminando em cenas desconexas e desnecessárias. Sorte dos fãs que "O Hobbit" não tem romance (originalmente falando).

Hellboy 2 começa de forma bem reveladora, mostrando parte da infância do Vermelho. O menino-demônio adora histórias contadas por seu "pai", o Professor Trevor Bruttenholm (John Hurt). Um desses contos fala de uma antiga lenda da guerra entre os humanos e elfos. Balor, o rei dos elfos, mandou construiu o "Exército Dourado", uma tropa de indestrutíveis máquinas assassinas. Assustado com a força desses guerreiros, resolveu fazer uma trégua com os humanos: eles ficariam com as cidades e os elfos com as florestas. Lenda ou realidade?

Hellboy 2 - O Exército Dourado

Anos depois – com Hellboy já crescido – a trégua contada na velha história é rompida. O Príncipe Nuada (Luke Goss), herdeiro do trono de Balor, temendo que os humanos destruam a Terra, invoca o "Exército Dourado" e põe fim à paz. Esse é o momento em que a equipe do Bureau de Pesquisas e Defesas Paranormal, composta por Hellboy e sua turma, precisam agir para enfrentar o avanço do inimigo. Hellboy será capaz de vencer um indestrutível exército milenar e salvar o mundo da aniquilação?

Nesse apanhado de argumentos pós e contra, o melhor que o espectador tem a fazer é tratar Hellboy 2 como filme de ação, nisso ele é bestial. A luta final entre Hellboy e Príncipe Nuada, por exemplo, é um show coreográfico de espadas, socos e muitas acrobacias. Enche os olhos vê uma sequência tão bem produzida, com todos os periféricos conspirando a favor da dramaticidade. Ainda assim, suspeito que Hellboy 2 - O Exército Dourado ficará marcado pela tentativa de sintetizar a diabólica e autodestrutiva natureza do amor.