A música foi censurada, mas não adiantou, até hoje sei decorado cada trecho da letra debochada. Depois de uns anos percebi que O Pensador não estava falando somente do Collor ou do PC Farias, ela nos mostrava através das rimas que não existe nada pior no mundo que a corrupção. Ela é a origem de todos os males. A fome, a injustiça, a desigualdade, tudo decorre da corrupção. Talvez só exista uma coisa parecida: a impunidade. Nós brasileiros sabemos disso, já estamos acostumados a vê-las saindo nas capas de revista.
Baseado em fatos reais, o filme Frost/Nixon (Frost/Nixon, 2008) começa a partir desse ponto. O britânico David Frost (Michael Sheen), popular apresentador de programas de auditório, entra na briga para conseguir a primeira entrevista exclusiva com o ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella). Após uma bela quantia em dinheiro, Nixon aceita o convite de Frost. É o início de um escorregadio embate loquaz. O material da entrevista transformou-se rapidamente numa das peças mais importantes da história política dos EUA.
Gostei da forma como o diretor Ron Howard amarrou o roteiro. Ficou parecendo os clássicos duelos de boxe entre Rocky Balboa e Apollo Creed, inclusive com direito a uma incrível reviravolta quando o juiz iniciava a contagem. Excelente material de estudo para os jornalistas. Uma aula sobre o poder da TV, da uma imagem, de um close na hora certa, a luta para conseguir uma emissora, um patrocínio, as negociações, os termos contratuais, a briga dos bastidores, o confronto entre as equipes. Sem dúvida um bom filme, por vezes chato, mas um bom filme.
Ao final fiquei com a impressão que a maior contribuição de Nixon foi colocar o sufixo "gate" em tudo que é escândalo de corrupção. O filme reforça essa idéia de que o político que se envolve em algo como Watergate, acaba mesmo "apagando" suas realizações do inconsciente coletivo. No caso do Collor, por exemplo, ninguém lembra que ele é o responsável pela abertura do mercado nacional às importações. O que, de certa forma, nos serve de consolo. E embora não pareça, Frost/Nixon é uma bela homenagem às instituições democráticas. Basta citar a cena que Nixon diz ter envergonhado a democracia e pede desculpas aos jovens do seu país. Já pensou algo assim no Brasil?
Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.