Uma pessoa que soube bem o que isso significa é Harvey Bernard Milk (1930-1978), político norte-americano que assumiu sua homossexualidade publicamente nos anos 70, sendo o primeiro gay assumido a ser eleito a um cargo público importante nos Estados Unidos. Tragicamente, no ano seguinte à posse, Milk foi assassinado por um adversário de carreira política desconsolado com a perda nas urnas. Milk fez história ao defender o direito civil dos homossexuais, representando para as comunidades GLBT o mesmo que Martin Luther King Jr. significou para os negros.
A história do político é contada no filme Milk - A Voz da Igualdade (Milk, 2008). Tudo começa no aniversário de 40 anos de Harvey Milk (Sean Penn). O quarentão lamenta nada ter feito de relevante na vida. Sem perspectivas ou motivações, Milk acreditava que não chegaria aos 50 anos. Cansado da discriminação que sofria em Nova York, ele decidiu morar com seu namorado Scott Smith (James Franco) em San Francisco. Juntos eles abriram uma pequena loja de revelação fotográfica no bairro operário Castro.
Mas não existia lugar para os gays nos Estados Unidos da década de 70. Enfrentando a violência e o preconceito da época, Milk acabou descobrindo talento para política. Com o auxílio de amigos e voluntários ele candidatou-se a um cargo político. Depois de cinco derrotas consecutivas nas urnas, Milk acabou sendo eleito para o Quadro de Supervisores de San Francisco em 1977. Seus feitos políticos ajudaram a acabar com uma série de preconceitos que existiam naquela época, como a lei que proibia professores assumidamente gays lecionarem.
É mais uma bela história de luta e conquista, dá esperança para aqueles que lutam pelos direitos civis das minorias. Por outro lado, Milk - A Voz da Igualdade mostra o lado perverso da política. O interessante aqui é acompanhar a estratégia de alguém que "jogava com as regras do jogo" e não ficava somente levantando uma bandeira utópica (como muitos candidatos de esquerda fazem). Harvey Milk aprendeu isso e conseguiu dá um baile nos outros políticos.
Milk - A Voz da Igualdade é uma cinebiografia interessante, mas não é o melhor filme no ano. O longa conseguiu 8 indicações ao Oscar, incluindo a de Melhor Filme, Melhor Diretor (Gus Van Sant), Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Roteiro Original. Pra mim exagero, já que tínhamos outros filmes bem melhores como "Foi Apenas um Sonho", "A Troca" e até mesmo "Batman - O Cavaleiros das Trevas" (leia a resenha). O único realmente justo é a indicação de ator para Sean Penn. O cara interpretou um gay eufórico sem cair no modelo caricatural dos programas de humor.
O filme notadamente faz questão de ser visualmente forte em sua primeira metade. Tudo bem que não há um erotismo vulgar como no nosso compatriota "Madame Satã", mas algumas cenas são fortes, prepare-se. Serve para isso mesmo, mostrar nosso nível de hipocrisia social ao "diferente". Seja por conta da sexualidade, cor da pela ou tamanho do bolso. A segunda metade do filme explora o desafio político e social para implantar leis de proteção ao gay. Aqui o filme se destaca. Ao invés de explorar personagens, Milk - A Voz da Igualdade prefere abordar as implicações sociais do movimento libertário. Um exemplo de revolução nesses tempos de calmaria.
Confira o trailer legendado clicando no botão play da imagem abaixo.