E assim como no mito, James Cameron juntou numa pequena caixa 3-D chamada Avatar (Avatar, 2009), todas as qualidades da recente cinematografia fantástica. O filme, por exemplo, tem inovações linguísticas (O Senhor dos Anéis), rebelião da natureza (As Crônicas de Nárnia), integração homem-máquina (Matrix), ineditismo tecnológico (Star Wars) e manipulação neural, temática já explorada em andróides (Substitutos) e presidiários (Gamer).
O visual dos personagens também não foge à regra. Ao que parece, os criadores se inspiraram na série de quadrinhos "Timespirits", publicada entre 1984 e 1986 pela Epic/Marvel. Basta observar com um pouco mais de carinho para notar que Avatar tem inclusive muitos elementos dos filmes de faroeste. Lá estão os índios armados com arco e flecha, montando cavalos selvagens e defendendo sua terra contra a pólvora do exército yankee. Talvez Avatar seja um pedido de desculpa dos americanos ao povo indígena...
Ainda que não propositalmente, as referências de Avatar enriquecem a história, tornando o filme um mundo de novas descobertas e experiências. E provavelmente a maior delas seja visual. Avatar foi feito para os olhos. Desse modo, mesmo que sua TV tenha 50'', seria um crime assisti-lo em casa. Até mesmo aquele cineminha do shopping já não serve. Avatar requer óculos especiais e uma mega sala de cinema com 3-D estereoscópico.
Infelizmente esse privilégio é para poucos. Para quem não tem uma sala IMAX ou projeção em 3-D digital no quintal de casa, só resta o 2-D em 35mm. Foi o meu caso. Mas nem por isso perdi o deslumbramento visual. O brilho e movimento da floresta fosforecente são incomparáveis. Fotorealismo ao extremo. O lugar parece um aquário de corais a céu aberto. Fora que na maior parte do filme senti um frio na espinha com as vertiginosas tomadas aéreas.
Na história, Jake Sully (Sam Worthington) é um ex-fuzileiro naval paraplégico, recrutado para fazer parte do Projeto Avatar, liderado pela Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver). A tecnologia empregada consiste em projetar sua consciência no corpo clonado de um Na’vi, como são chamados habitantes indígenas da lua Pandora. O objetivo dessa experiência é permitir que o militar se infiltre na região e prepare o terreno para a exploração dos recursos naturais. O problema é que o sujeito apaixona-se pela floresta, pelo povo e pela guerreira Neytiri (Zoë Saldana), transformando a história numa grande jornada de descoberta, amor e redenção.
Avatar demorou 15 anos para encontrar a maturidade. Um trabalho longo, paciente e minuciosamente detalhado. Pode não bater recordes, pode não ganhar prêmios, pode não dá em nada, mas Avatar já significou um pequeno passo em busca da cura de um dos maiores males do homem: a ganância. Já que nossos líderes não conseguiram acordar um caminho sustentável para o desenvolvimento, quem sabe o povo encontre na filosofia indígena de Avatar, o pouco que ainda resta da velha Caixa de Pandora.
Confira o trailer: