Esta resenha é sobre a primeira parte dessa jornada, chamada O Festim dos Corvos. O título sintetiza bem a história, pois a narrativa explora a reação dos personagens diante da nova estutura de poder. Aqui, Westeros encontra-se em um cenário pós-guerra, com corpos espalhados pelas estradas e criminosos levando terror aos sobreviventes. Em momentos assim, os seres humanos da vida real costumam se apegar à religiosidade. Não é diferente na ficção.
O Festim dos Corvos explora a fé como nenhum outro até agora. Eu estava bem ancioso para mergulhar nesse novo paradigma da aventura. Porém, depois de algumas centenas de páginas, comecei a achar bem chata a exploração massiva das divindades. Praticamente todos os personagens tiveram que conviver com algum tipo de profeta. O pior deles é Olho de Corvo e seu Deus Afogado. Falta aos homens de ferro carisma para conquistar a empatia do público. É difícil imaginá-los em Porto Real.
Fácil é enxergar Daenerys Targaryen como rainha. Apesar de não ter aparecido nesse volume, o autor começa a preparar Westeros para seu retorno. Nos bares seu nome já é aclamado como a legítima herdeira do Trono de Ferro. Título que atualmente pertence à Cersei Lannister. A loira finalmente consegue eliminar todos os homens ao seu redor e toma para si a regência dos Sete Reinos. A seu modo, move peças e formenta tramas.
Logo a Rainha Velha percebe que a coroa é um fardo pesado demais. Ela ignora o parecer técnico de seu pequeno conselho e toma decisões administrativas e operacionais equivocadas. Se não bastasse, Cersei exagera no protecionismo maternal, plantando sua própria desgraça. O autor trabalhou muito bem essa epopéia, transformando a Rainha em cópia perfeira do finado marido Robert. Quem diria... Logo ele, que tanto era odiado. Doce ironia regada a vinho e reclamação de direitos sexuais com suas aias.
Odiada e abandonada, cheguei a ter pena de Cersei. Dando tempo, espero que ela evolua nos próximos livros. Basta seguir o exemplo do irmão Jaime. É sem dúvida o personagem que mais cresce. Está quase se transformando em herói. Será possível esquecer um passado tão terrível? Difícil acreditar, mas é certo que o Regicida tem mostrado um senso crítico similar ao caçula Lannister. O fechamento do arco dá indício de desfecho shakespeariano.
Quem não corre esse risco é a menina Arya Stark. Avessa à paixonites, ela abandona seu passado para ser aceita como noviça pelos Homens Sem Rosto de Bravos, na Casa Preto e Branco da Cidade Secreta. É realmente incrível a jornada dessa garota. O texto transparece uma força sobrenatural da personagem. De longe a grande heroína! O Festim dos Corvos é o livro dela. Minha favorita a tomar o reino e declarar anarquia geral!
Arya diverte, assim como o corvo Samwell. Sua viagem pelos mares traz boas reflexões. Apesar disso, achei muito pouco para um livro tão grande. Senti que a necessidade de esticar a história obrigou o autor a desenvolver personagens ruins, de terceiro escalão, como a comitiva conduzida pela donzela Brienne. Perdidos e sem destino, nada agregam à trama. Por tudo isso, O Festim dos Corvos vai ficar marcado por essa falta de objetividade. Para os fãs resta o consolo da qualidade técnica, mantida impecável.
Ficha técnica:
Título original: A Song of Ice and Fire: A Feast for Crows
Título no Brasil: As Crônicas de Gelo e Fogo - Festim dos Corvos - Volume Quatro
Editora: Leya
Autor: George R. R. Martin
ISBN: 9788580443769
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 644
Acabamento: Brochura
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