A explosão demográfica foi abordada de forma contundente em 1968, através da publicação do livro "A Bomba Populacional", do biólogo americano Paul Ehrlich. Naquela época a população era de apenas 3,5 bilhões. O problema da superpopulação estava só decolando. Desastres envolvendo a escassez de alimentos, a destruição da natureza e riscos biológicos, eram apenas enredos de ficção científica. A revista Superinteressante de maio de 1993 (ed. 068) abordava o tema: "O argumento de Ehrlich era simples: se o crescimento da população não fosse contido, a própria natureza se incumbiria de contê-lo."
Esse assunto volta à pauta global por culpa do livro Inferno - Uma Nova Aventura de Robert Langdon, sexto romance policial do escritor americano Dan Brown. Em teoria, debater um tema tão complexo através das peripécias de um professor de simbologia que usa relógio do Mickey, chega a ser patético. Na prática, os recursos estilísticos empregados têm compromisso apenas com a beleza estética do texto e com o nível de imersividade na história. A ficção termina na ficção. Mas o que não podemos negar é a plasticidade da Teoria Populacional Malthusiana, argumento que sustenta o romance.
Trata-se de estudo do economista e demógrafo britânico Thomas Malthus, publicado originalmente em 1798. O pesquisador alertava que a população crescia em progressão geométrica, enquanto que a produção de alimentos crescia em progressão aritmética. Isso sim merece um debate supraficção! Esse é o maior mérito de Dan Brown. O seu Inferno não traz luz sobre o tema, mas nos apresenta um personagem que parece muito com o Ozymandias de "Watchmen". Não a HQ de Alan Moore, mas o filme de Zack Snyder.
Teorias à parte, vamos ao livro. A história é ambientada na Itália, no coração da Europa. Seguimos o professor Robert Langdon no rastro de uma misteriosa conspiração global relacionada à poesia da obra de Dante Alighieri. As peças se movem a partir dos detalhes implícitos no texto e na vida desse brilhante artista italiano. O livro dedica muito tempo à descrição e contextualização das obras. Mentiras ou verdades, todas as peças são encaixadas após longa fundamentação e convencimento. O quebra-cabeça de Dan Brown nunca esteve tão brilhantemente conexo.
É comovente a paixão do autor pela arquitetura das pequenas cidades italianas. A vontade é ler o livro sentado nos cenários descritos. Mas em alguns momentos ele passa do ponto. O resultado final é um história arrastada, caminhando de forma lenta e com poucas surpresas pelo caminho. Dan Brown dessa vez usou o recurso do flashbacks para contar sua história. O jogo de memórias criado em Inferno nunca convence. A história passa artificialidade desde a primeira página. Tudo é teatral e mal resolvido. O pobre professor Robert Langdon perdeu um pouco de sua verossimidade.
O melhor do livro está escrito no título: inferno. É realmente muito bom explorar a criação de Dante Alighieri do ponto de vista de um simbologista especialista em iconografia religiosa. Ao longo dos capítulos vamos descendo todos os níveis do território demoníaco. Temos a descrição técnica. Temos a ponderação social que influenciou a obra. E temos a reflexão do "conceito de inferno". Quem é o maior beneficiário dessa criação? Quem ganha com o pânico das pessoas? Não sei. Mas a religião, sem dúvida, lucrou bastante. Nada mais motivador que o medo!
Inferno - Uma Nova Aventura de Robert Langdon é um livro interessante, de fácil leitura e que nos desperta o interesse pós-ficção. Mesmo mudando alguns ingrediente de sua fórmula literária, Dan Brown mantém o sucesso dos seus objetivos. Nos oferece uma literatura rápida e divertida. Apresenta cenários culturalmente ricos e pontos de impacto para gerar polêmica. Inferno, aleluia, deve se tornar um ponto turístico de peregrinação para uma população cada dia maior.
Ficha técnica:
Título original: Inferno - Uma Nova Aventura de Robert Langdon
Editora: Arqueiro
Autor: Dan Brown
ISBN: 9788580411522
Ano: 2013 / 1ª edição
Número de páginas: 448
Acabamento: Brochura
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