sábado, 3 de abril de 2010 às 23:59

Eric Clapton - A Autobiografia: revelando demônios na guitarra de um deus

Nota 5/5
Eric Clapton – A Autobiografia
A era dos paparazzi acabou! E sabe de quem é a culpa? Do Twitter. Atrás de novos seguidores as próprias celebridades estão expondo sua intimidade. O hollywoodiano Ashton Kutcher, por exemplo, postou no microblog o cofrinho da namorada Demi Moore. O Luciano Huck, a ferida no dedo da amada Angélica. Até a atriz Carolina Dieckmann, que processou um programa por invadir sua privacidade, já publicou fotos de sua rotina familiar.

Mesmo com essa inversão no papel de bisbilhoteiro, nada parece ter mudado: continuamos interessados na vida alheia. O chato é que no Twitter a fofoca chega em migalhas. Para quem não tem paciência pra isso, existe outra boa maneira de conhecer a vida dos famosos: o livro de memórias. Foi seguindo meus instintos de xereta que comprei Eric Clapton - A Autobiografia (Editora Planeta, 2007).

Como a maioria das pessoas, conheci Eric Clapton através da música "Tears in heaven". Eu era moleque, passeava na casa dos 10-11 anos. Um amigo tocou a música no violão, enquanto me contava a trágica história que havia inspirado Clapton: a morte do próprio filho. Desde então não esqueço os acordes, a letra e a melodia. Depois vieram outros sucessos como "Wonderful tonight" e "Layla", mas aí eu já era um seguidor.

Infância

O livro, claro, começa por sua infância na Inglaterra. Aqui o fato mais marcante é o trauma de ter sido rejeitado pela mãe, que o abandonou ainda bebê. O próprio Clapton diz que conviveu por muito tempo com uma aversão às mulheres. Ele simplesmente não conseguia manter laços afetivos com qualquer pessoa. Suas relações eram sempre curtas e marcadas por separações conturbadas.

Influências

Ainda nos primeiros anos de sua vida, Eric Clapton conta como foi difícil lidar com a expulsão da faculdade de artes. Mas foi a partir daí que o músico começou a se forjar. Em cada nova página descobrimos os diversos artistas e canções inspiradores de sua paixão pela guitarra. Com muito entusiasmo, ele descreve ainda a experiência em escutar pela primeira vez artistas como Bob Dylan e Louis Armstrong.

Por falar nisso, é impressionante o amor do músico pelo blues. Ele conta que no início era tão xiita que sequer pensava em gravar um disco, pois achava que o blues verdadeiro só existia ao vivo. Junto com isso Clapton explora sua experiência nos clubes do submundo londrino, incluindo encontros ocasionais com os Rolling Stones e os Beatles.

Beatles

Sobre os Beatles, Clapton demonstrou muita antipatia no início da relação. Ele diz que detestava a forma como eles haviam industrializado a música, com todo mundo usando as mesmas roupas e tocando no mesmo estilo. A própria gritaria dos fãs durante a apresentação era a prova que os Beatles eram um lixo, pois as pessoas sequer conseguiam escutar o que estava sendo tocado.

Ainda assim, a relação entre eles cresceu. Certa vez, George Harrison o convidou para ir até o Abbey Road Studios, onde os Beatles estavam gravando o novo álbum. Era a sua introdução ao santuário do quarteto de Liverpool. O que chamou atenção de Clapton foi o pouco caso que John e Paul faziam das contribuições de George e Ringo.

Clapton ficou muito amigo de George. Porém, a amizade dos dois ficou abalada quando o beatle mandou acetados do disco "The White Álbum" e Clapton resolveu (inocentemente) tocar alguns canções na última turnê de sua banda Cream pela América. Ele acabou levando o maior esporro do quarteto e achou por bem afastar-se.

Mais tarde, Clapton complicou ainda mais a situação ao se apaixonar pela esposa do George Harrison: Pattie. A paixão entre eles foi avassaladora. Tudo acontecia na própria casa do chifrudo. Até que um dia assumiram tudo e foi aquela confusão. Marcado por idas e vindas, a tórrida paixão acabou virando o álbum "Layla", da recém-formada banda Derek and the Dominos.

Estados Unidos

Fugindo dos problemas, Clapton foi para os Estados Unidos e se mostrou muito impressionado com a receptividade do mercado americano. Ele disse que não importa seu talento, nos EUA você será recebido e valorizado. Tem espaço pra todos. O próprio Clapton diz ter vivido o ponto alto da sua carreira quando foi convidado para tocar a música "Be as good to me as i am good to you", com Areta Flanklin.

Por outro lado, também foi nos EUA que ocorreu um dos acontecimentos mais importantes de sua vida: a prisão em Malibu. Mandado para a cadeia municipal de Los Angeles, Clapton dividiu cela com um grupo de afro-americanos integrantes dos Panteras Negras. Saiu sob fiança e desiludido com a América.

Drogas

Esse acontecimento é o pronto de partida para Clapton nos revelar toda sua experiência com as drogas. Ele consumia heroína quase em tempo integral, antes havia experimentado de tudo, mantendo uma relação duradoura com a cocaína e a maconha. No auge do vício botou na cabeça que poderia transformar a platéia em anjos ou demônios conforme a nota que saísse de sua guitarra!

Com todo esse coquetel, o maior dos vícios de Clapton foi o álcool. É impressionante sua relação com a bebida. Aterroriza quem lê. Segundo ele, o efeito era para ser esse mesmo. Sem hipocrisia ou qualquer tipo de maquiagem, o músico nos conta sua dependência ao álcool e a maneira como lidou com isso ao longo dos anos.

Filho

O principal agente transformador foi seu filho Conor. Por ele, Clapton havia se internado em uma clínica de reabilitação. Tragicamente, em 20 de março de 1991, o menino de apenas 4 anos, morreu depois de cair da janela de um apartamento em Nova York. Mas ao contrário do que todos esperavam, Clapton não sucumbiu ao álcool. Poucos meses depois ele tocava pela primeira vez "Tears in heaven", canção que o tornou imortal.

A Autobiografia

Com uma vida tão recheada de altos e baixos, Eric Patrick Clapton conseguiu entrar para a história como um dos três melhores guitarristas de todos os tempos. Nesse angustiante livro de memórias, o mito exacerba seu lado doente e revela todos os demônios por trás do deus.
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