quinta-feira, 20 de maio de 2010 às 19:01

Alice no País das Maravilhas: uma bem-humorada homenagem a mais singular das histórias infantis

Nota 5/5
Alice no País das Maravilhas
Minha filha não se chama Alice, mas foi quase. Por muito pouco não fiz essa homenagem à personagem de Lewis Carroll. Minha obsessão pela fábula inglesa tem muito a ver com as características da menina loira. Ela olha um coelho correndo e se pergunta: por que não? E sai atrás do orelhudo. Enxerga um vidrinho escrito "beba-me" e experimenta. Percebe a empáfia de uma lagarta e a encara. Dá de ombros para as maluquices de um chapeleiro. Peita uma rainha de frente.

Essa é Alice. Corajosa, decidida. Alice é uma menina, topa desafios sem medir as consequências de seus atos. Alice é nosso sonho, nosso avatar. Alice é aquela criaturinha que passa voando de bicicleta sem se importar com o que a espera no outro lado da esquina. Que sobe numa árvore sem calcular o peso sobre a galha. Que se arrisca, se propõe, se entrega. Alice é isso. Alice é mais do que isso.

Alice no País das Maravilhas Alice no País das Maravilhas

Os fãs da história infantil sempre morreram de medo que um dia essa Alice crescesse, se tornasse chata, medrosa, cheia de responsabilidades tolas. Alice não podia crescer. Alice não deveria crescer. Pequena, a menina altiva, mandona e malcriada, sempre parecia meiga, doce, engraçada. Ela é criança. Toda criança é assim. Ou pelo menos deveria ser assim. Então por que Alice deve crescer? Mais do que isso: por que pensar o porquê de Alice ter que crescer?

Eu não conseguia imaginar. Mas aí veio o cineasta Tim Burton – com sua chapeleiresca cabeça hollywoodiana – propondo misturar os dois livros de Alice, um cenário 3-D e personagens já crescidos. E dessa loucura saiu Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland, 2010). Ao contrário do que os críticos me levaram a crê, achei o filme espantosamente genial. Fiquei bestificado com as imagens, a concepção dos personagens, dos cenários, as ideias para emendar a história, tudo.

O começo do filme até parece chato. Alice (Mia Wasikowska) surge seca, pálida, triste e desambientada. Aos 19 anos, a quase mulher é pedida em casamento. Festa arranjada em que o "sim" é mera formalidade. Mas estamos falando de Alice. No meio da cerimônia ela foge, seduzida pela velocidade de um coelho branco. Caindo num buraco a fábula começa. Lá estão todos os personagens divertidos que conhecemos, incluindo um Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) pouco inspirado.

Alice no País das Maravilhas Alice no País das Maravilhas

Nesse mundo Alice é respeitada como adulta. Nela depositam-se as esperanças do povo em um mundo livre do mal. Todos esperam que a menina empunhe uma espada, derrote um terrível dragão e devolva a coroa à Rainha Branca (Anne Hathaway). É muito pra uma criança que só queria saber o que tinha no outro lado do espelho. Destoa um pouco o sentido original, mas tudo bem. Para vê a Rainha de Copas (Helena Bonham Carter) bufando vale tudo.

Sem criar grande expectativa, Alice no País das Maravilhas de Tim Burton é um excelente filme. Divertido, bem-humorado, contagiante. Baseada na mais singular das histórias infantis, essa é uma bela homenagem que merece ser vista, apreciada e reverenciada. Tudo de ruim poderia ter acontecido, mas afinal de contas, Alice cresceu, viveu sua última aventura e deu adeus ao País das Maravilhas sem sofrimento. Só nos resta agora saber até quando o Coelho Branco vai aceitar a aposentadoria.

Veja o trailer legendado:


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Comentários
1 Comentários

1 [+] :

Daniel Castelo-Branco disse...

Resenha made in Picos.

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