sábado, 7 de agosto de 2010 às 15:42

Kick-Ass - Quebrando Tudo: uma comédia debochada que embaralha nossas fantasias de herói

Nota 4/5
Kick-Ass - Quebrando Tudo
Em 2008, depois de uma overdose de super-heróis multicoloridos, "Hancock" nos apresentou um personagem alcoólatra, maltrapilho, impulsivo e canastrão. Características bem diferentes do que nos acostumamos a vê em Superman, Homem-Aranha e até mesmo Batman. O filme trazia um sujeito com superpoderes, mas não queria usá-los em defesa dos fracos e oprimidos (leia a resenha).

Esses dias assisti Kick-Ass - Quebrando Tudo (Kick-Ass, 2010), que é justamente o oposto de Hancock. O longa conta a história de Dave Lizweski (Aaron Johnson), definido por ele próprio como um estudante medíocre (na acepção matemática da palavra). Indignado com as pequenas injustiças cotidianas de seu mundo adolescente, ele põe em prática uma ideia espantosamente inédita: virar super-herói.

Kick-Ass - Quebrando Tudo Kick-Ass - Quebrando Tudo

Sarcasticamente auto-proclamado Kick-Ass e usando traje verde de mergulhador, o adolescente repete os primeiros passos de Peter Parker no início da saga "Homem-Aranha". Treinos com nunchaku, pulos sobre prédios e as tradicionais caras e bocas em frente ao espelho. Depois de alguns minutos, nosso herói está preparado. No caminho para escola encontra dois bandidos assaltando um automóvel.

Numa hora dessas, o bom senso manda virar as costas e seguir em frente. Mas como super-herói, Kick-Ass não tem esse direito. A primeira aparição em frente aos bandidos é bizarra. Kick-Ass é espancado brutalmente, leva uma facada na barriga, é atropelado por um carro e jogado na sarjeta. Eu sinceramente achei que o filme fosse acabar ou, no mínimo, tomar um novo rumo. Inacreditavelmente não foi isso que aconteceu. Depois de alguns dias hospitalizado, Kick-Ass estava de volta às ruas.

Kick-Ass - Quebrando Tudo Kick-Ass - Quebrando Tudo

Em decorrência do incidente, os ossos do adolescente franzino são recobertos por pinos e placas de metal. Com isso ele perdeu parte da sensibilidade à dor. Era o "superpoder" que faltava para lhe garantir autoconfiança. A oportunidade aparece numa briga contra três criminosos. Novamente espancado, Kick-Ass agora aguenta firma. Acaba vencendo os três pelo cansaço.

Kick-Ass é um herói 2.0. Suas aparições são sempre filmadas. Minutos depois os vídeos já se espalham pelo YouTube, blogs e redes de relacionamento. Kick-Ass vira uma web-celebridade. Para ganhar a TV foi um passo. Com a mídia em cima, surgem os vilões. Nesse caso um traficante de cocaína de Nova York. Perseguido, o herói recebe a visita de Big Daddy (Nicolas Cage) e Hit Girl (Chloe Moretz), dois super-heróis que já atuavam antes dele.

Kick-Ass - Quebrando Tudo Kick-Ass - Quebrando Tudo

A história ganha graça e emoção, especialmente por causa de Hit Girl, uma garotinha de apenas 11 anos. A diabinha é uma espécie um clone em miniatura da japonesa degoladora de "Kill Bill". Antes de assistir ao filme, li muitas críticas negativas a respeito disso. De fato, ao pé da letra, Hit Girl é uma aberração. A imagem dessa pobre criança foi usurpada de modo covarde, apelativo e assustador. Caberia uma reflexão a cerca do trabalho infantil no show-business.

Desconsiderando esse tipo de imersão moral, Kick-Ass - Quebrando Tudo é um filmaço! Comédia como há muito não se via. Um filme crítico, debochado e inteligente. Travestido numa história aparentemente bobinha, Kick-Ass confunde nossas percepções e embaralha nossas fantasias de herói. Gibis são legais, mas os vilões da vida real são muito mais terríveis que Lex Luthor, Duende Verde e Coringa.

Confira o trailer:

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