Os Mercenários: um apanhado de decadentes e problemáticos brucutus descerebrados

O Brasil é um país permissivo. O povo aceita impostos altos e benefícios zero. Nossos políticos são corruptos. Há muita violência urbana. Temos um dos maiores abismos sociais do mundo. A fome diariamente bate à nossa porta. Convivemos com pobreza e miséria. Mas no final das contas, o brasileiro é feliz, acolhedor. Tratamos bem nossos turistas. Compartilhamos até mesmo o que não temos. Somos assim.

O problema é quando alguém abusa dessa hospitalidade. O Sylvester Stallone, por exemplo, veio ao país para gravar cenas do filme Os Mercenários (The Expendables, 2010). Quando foi embora, disse o seguinte sobre o Brasil: "Lá você pode atirar nas pessoas, explodir coisas e eles dizem 'obrigado, e leve um macaco'. Os policiais usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada no centro. Já mostra o quão problemático é aquele lugar".

O sujeito cuspiu no prato que comeu. Por isso prometi não assistir ao filme. Resisti, mas com tanta gente comentando, acabei sendo seduzido pela curiosidade. Stallone convocou um exército: Jason Statham, Jet Li, Dolph Lundgren, Mickey Rourke, Terry Crews, Randy Couture e Steve Austin. Juntos com Arnold Schwarzenegger, esses caras representam tudo que os atuais filmes de ação tentam se afastar.

Mas verdade seja dita: Jason Statham e Jet Li são realmente bons no que fazem. Mickey Rourke, apesar das duras críticas recebidas, desempenhou muito bem seu papel. Dessa trupe, o ponto negativo é o próprio Stallone. O personagem foi mal desenhado. Com um cavanhaque ridículo e o rosto todo emplastificado no botox, ele não foi sombra do ícone forjado nos ringues e florestas vietcongues.

Não contente com o péssimo trabalho diante das câmeras, Stallone resolveu assinar direção e roteiro. O resultado é catastrófico. Tudo em Os Mercenários é descoordenado, sem continuidade. Falta naturalidade, paixão nas atuações, sequências lógicas de acontecimentos, motivação. O filme termina e você não lembra como tudo aquilo começou. Pior do que isso é o roteiro. Os diálogos são ridículos. É incrível como os atores conseguem falar o texto sem cair na gargalhada.

É verdade que temos boas passagens, como na sequência final e na participação da Gisele Itié. Aliás, a brasileira chamou muita atenção como heroína sofredora. Fora isso, Os Mercenários é um desastre. Acho que em algum momento Stallone e sua turma descerebrada acreditou que o filme seria a salvação de suas carreiras. Quem sabe tenham se imaginado heróis construindo uma Liga da Justiça. Só isso já mostra o quão problemático é aquele povo.

Confira o trailer:

Leia mais:

• G.I. Joe - A Origem de Cobra: uma volta ao mundo encantado dos "Comandos em Ação"? (30/10/09)
• Rambo 4: a volta do ex-guerreiro inexorável (18/05/08)
• O Ultimato Bourne: o melhor filme de ação do ano (15/11/07)
• Atirador: exército de um homem só (27/06/07)