Tropa de Elite 2: um tsunami de corrupção destruindo nossa esperança de cura social

Outro dia fui testemunha de uma cena de violência urbana. Um marginal assaltou uma pequena loja próxima ao meu trabalho. O dono, cansado do descaso da segurança pública, resolveu reagir e seguiu atrás do bandido. Alguns metros depois o homem derrubou o malandro. Justiça com as próprias mãos! Sou contra violência, mas numa situação dessas, tolero um bom corretivo.

Mas ao invés disso, o comerciante sacou um revólver cano curto, apontou pra cabeça do sujeito e soltou umas ameaças. Um, dois, três, quatro, cinco segundos. No chão, deitado, pisado, humilhado, o rendido chorou. De joelhos se arrastou alguns metros e fugiu a galope.

Nesse momento, ainda com o 38 em punho, a vítima era o réu. Uma arma na cintura serviu para abortar aquele crime. Por outro lado, nada o impede de usar o mesmo argumento numa briga de trânsito ou numa piada de bar. Por bem menos as delegacias enchem seus caderninhos. E de quem é a culpa?

Não existe culpa. O bandido se acha no direito de roubar, pois foi jogado à margem da sociedade. O empresário se acha no direito de policiar, pois desacredita nas instituições. E o resto do povo se acha no direito de ignorar os fatos, pois violência é parte de nossa cultura.

Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro escancara tudo isso. O filme dimensiona o problema das milícias no Rio de Janeiro. Bem piores que traficantes e trombadinhas, os políticos são apontados como a fonte de toda a rede de corrupção que assola a polícia brasileira. Um câncer que espalha o vírus para vender vacina.

Não há como frear o sistema. É assim e pronto. Nem mesmo Capitão Nascimento, o primeiro super-herói brasileiro, consegue. Para piorar, Tropa de Elite 2 o desconstrói! Primeiro: muda-se a patente. Nascimento não é mais do BOPE. Ele agora trabalha na Secretaria de Segurança do Governo.

Segundo: não tem mais família. Separou-se da mulher e perdeu a idolatria do filho. Terceiro: não tem mais um exército. Tobias, seu pupilo, já não acredita na capacidade de transformação do ex-líder. Nascimento é um pato fora d'água. Ninguém – exceto parte da imprensa – tem interesse no outro lado da cortina.

Como um tsunami, Tropa de Elite 2 devasta nossas esperanças. Liga a sirene para um problema que não é do Nascimento, não é do BOPE e nem mesmo do Governo. Corrupção é uma doença da sociedade. E pra isso, pode apostar zero dois, o remédio é uma injeção via intravenosa.

Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010)
Direção: José Padilha
Roteiro: José Padilha, Bráulio Mantovani
Origem: Brasil
Elenco: Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Maria Ribeiro, Sandro Rocha, Milhem Cortaz, Tainá Müller, Seu Jorge, André Mattos, Emílio Orciollo Neto.

Confira o trailer:


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