segunda-feira, 13 de abril de 2009 às 17:19

Anjos e Demônios: tirando a excitação mágica, é cópia de "O Código Da Vinci"

Anjos e DemôniosAnjos e Demônios (Editora Sextante, 2004) me persegue. Desde que descobri o enigmático "O Código Da Vinci" (leia a resenha), muita gente veio dizendo que eu precisava conhecer Anjos e Demônios, a primeira aventura do simbologista Robert Langdon. Como o filme será lançado no próximo mês, achei que esse era o momento ideal para finalmente conhecer a história. Percorri as 464 páginas sem dificuldade. O livro é fácil, a linguagem bastante simples, fatos que transformaram a leitura num momento de prazer e diversão. Méritos do autor Dan Brown. Ele desenhou uma história aparentemente séria, com muito senso de humor, ação e aventura. De quebra ele oferece um cardápio de descobertas milenares banhadas em arte e cultura. Resumindo: uma mentirinha bem contada.

Peraí... isso aí parece com o "O Código Da Vinci", ou não?! Tudo bem que Anjos e Demônios veio três anos antes, tendo sido publicado originalmente em 2000. A questão é que "O Código Da Vinci" é bem mais conhecido, tendo quase o dobro de sua tiragem. É até normal que muita gente só o tenha descoberto depois do livro da Mona Lisa. Sendo assim, Anjos e Demônios sofre com essa grande semelhança com seu irmão mais novo e mais famoso. O modelo narrativo de ambos é idêntico. Tudo começa com um misterioso assassinato e uma investigação semiótica. O corpo da vítima contém uma marca pouco conhecida. Um simbologista reconhece a imagem como pertencente a uma seita secreta. Surge uma heroína, um assassino de aluguel e um chefão secreto que irá trair todo mundo. Ah, faltou a polêmica com a Igreja Católica. Pronto!

Essa receita me deixou incomodado. É como se já soubesse a história. Isso tirou muito o brilho do livro. Por outro lado, Anjos e Demônios possui uma temática muito mais instigante: ciência e fé. Foi divertido acompanhar a guerra entre cientistas e religiosos, principalmente na perspectiva de alguém que buscava encontrar um ponto em comum entre esse dois lados aparentemente antagônicos. Gostei da forma como os Illuminati foram construídos: uma poderosa fraternidade fundada por Galileu Galilei e composta por mentes brilhantes como Bernini, eminente artista do barroco italiano conhecido por suas numerosas obras em Roma e no Vaticano. Segundo o livro, a Igreja Católica e os Illuminati travavam uma guerra que já durava 400 anos. Anjos e Demônios seria o fim dessa guerra. De posse de uma nova arma devastadora, os Illuminati ameaçam explodir a Cidade do Vaticano durante a sucessão papal. Já pensou?

Muito boa a idéia de infiltrar os Illuminati na maçonaria, na política e em todas as esferas do poder mundial, inclusive no próprio Vaticano. Anjos e Demônios explora com maestria a caçada por criptas, igrejas e catedrais, empreitada pelos protagonistas Robert Langdon e Vittoria Vetra. Os dois desvendam enigmas e seguem uma trilha que pode levar ao covil dos Illuminati. Nesse refúgio secreto está a única esperança de salvação da Igreja. Muito legal o envolvimento da história com a votação do novo papa, os detalhes das cerimônias secretas da Igreja, as bibliotecas que ninguém tem acesso, os livros que poucos podem tocar. Tudo isso com uma dupla de jornalistas oportunistas (e qual não é?) no seu encalço. Pode ter sido apenas uma estratégia narrativa para trazer realismo à história, mesmo assim achei uma bela crítica à imprensa inglesa.

Alguns debates no livro me chamaram atenção, o principal deles envolveu o assassino e o papa temporário, o Camerlengo Ventresca. Gostei da forma como o assassino definiu a Igreja e as barreiras que ela coloca para o progresso da Ciência. Mas ao mesmo tempo, e igualmente genial, foi a forma como o papa questionou a forma como os cientistas lidam com moral diante dos desafios éticos que o progresso impõe. Um bom livro, mas infelizmente não chega aos pés da excitação mágica gerada pelo "O Código Da Vinci". O mais engraçado é que a maioria das pessoas que enaltece Anjos e Demônios nunca leu "O Código Da Vinci", conhecem apenas o filme. E quem leu o livro sabe que as páginas têm muito mais sabor do que os frames. Espero que o filme de Anjos e Demônios supere ao menos isso. Nota 3/5

Outros posts sobre o assunto:

Qual nota você dá para o livro?
Comentários
1 Comentários

1 [+] :

Vanessa Brito disse...

É da rever nossos conceitos sobre a utilidades de certas coisas e a forma que encarmos a realidade. No mais, perfeito!!!

Postar um comentário

Related Posts Plugin for Blogger...